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Publicado: Sexta, 18 Março 2016 09:58
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Atribuir o forte espírito de corpo dos paraquedistas militares a meros clichês reforça suposições apressadas. Reconhecer e admirar o peculiar entusiasmo dos guerreiros alados anima o imaginário dos exércitos ao redor do mundo, desde o emprego original de tropas aeroterrestres, em bases maciças, na 2º Guerra Mundial, berço da mística gloriosa desses Ícaros surgidos dos céus para surpreender – como me surpreenderam na sexta-feira, 11 de março.
Na semana anterior, os coronéis Pellegrino e Amilcar convidaram-me para encontro no Clube Militar, na data citada, coincidindo confraternização no Posto Copacabana da SIP/1 e reunião da 3C, no mesmo local, três eventos imperdíveis. Egresso no curso da dita confraternização, adentrei a sede da Lagoa a tempo da Canção da Cavalaria e de rever companheiros diletos, em choques de estribos típicos à alma cavalariana, heroica e forte. Finda a tradicional CCC – Cavalo, Cultura e Competência -, rumei ao almoço da Brigada dos Afonsos.
Ao longe, ecos musicais prenunciavam a efervescência da verdadeira ZL instalada no andar superior, onde descerrado cenário festivo refulgia subgrupo de nuances institucionais insuspeitas. Da intensidade notória do orgulho de afiliação, atual ou pretérita aos quadros aeroterrestres, seria redundante discorrer tamanha a expressividade daqueles mais de cem presentes – oficiais e praças - irmanados através da energia de experiências comuns, amor ao Exército e à inesquecível Brigada. Da amizade, símbolo maior da coesão, emanava componente visceral ao espectro de valores formativo do espírito de corpo fantástico. Mas algo pairava no ar além dos velames da fraternidade indestrutível e da aura exclusiva aos afilhados de São Miguel Arcanjo: a fidalguia sincera e desinteressada.
Ao chegar, acorreram companheiros a cumprimentar-me em festival de gentilezas advindo, sem dúvida, de generosa conformação do etos paraquedista. Eu, cavalariano humilde, pé preto transitado em julgado, percebi-me logo à vontade tal autêntico cultor das lanças cruzadas, nas baias ou garagens de esquadrões celebrando conquistas e vitórias. No palco, os acordes agradáveis executados por músicos da Brigada alegravam o ambiente já animado por reencontros, apresentações e demonstrações de camaradagem intensa.
O céu de brigadeiro da tarde amena inspirava lançamentos na memória afetiva, que a exibição de breve filmete sobre cerimônia de brevetação recente acirrou e transportou-me a idos longínquos, quando imaginei integrar uma daquelas formaturas de simbolismo marcante. Em 1975, ainda segundo-tenente, após cerca de um mês sendo submetido a exames e exigências variadas, sucumbi ante a destinação de apenas três vagas, na Cavalaria, a dois majores e a um capitão; em 1985, quase major, infiltrei-me numa área de estágio prioritária a concludentes da EsAO, sendo desligado na prova de aterragem, véspera do salto inicial. Maktub.
O ápice da reunião veio no vibrante entoar coletivo da belíssima Eterno Herói, a canção dos paraquedistas capaz de arrepiar o mais insensível dos mortais, com a introdução da chamada no avião para o salto, a letra empolgante e o fecho conciso. Naquele momento lembrei, saudoso, do Gen Newton Lisboa Lemos, o autor da canção que conheci e muito admirava na sua postura elegante, invejável cultura e conversa atraente, um autêntico cavalheiro que a área de inativos e pensionistas propiciou-me o privilégio da aproximação pessoal. Aventei comigo a hipótese: estaria o DNA aeroterrestre suscetível à fidalguia do general Lemos? Pus-me a refletir, amparado em indícios consistentes.
O Gen Acrísio, antigo estimado Águia Uno, há tempos concedeu-me brevê honorário; os convites gentis dos Cel Pellegrino e Amilcar; o brinde sorteado ao Cel Souto que me repassou; a recepção calorosa e o reviver de ligações fraternas, tudo fortalecia as conjeturas, confirmadas no inquestionável profissionalismo, liderança e fidalguia do atual Comandante da Brigada de Infantaria Paraquedista, Gen Abrahão.
Pari passu o desprendimento, a coragem, a força e a fé, o sopro do entusiasmo divino, cqd, privilegiou lugar nos corações paraquedistas ao cavalheirismo, à elegância e à amizade.
Excelentes saltos, velames abertos e aterragens perfeitas aos eternos heróis fidalgos!
Rio de Janeiro, 14 de março de 2016.
Cel Cav Nilo, 85/3, paraquedista honorário.{jcomments on}
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Publicado: Segunda, 22 Fevereiro 2016 15:57
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Serendipity, palavra charmosa do idioma inglês, não tem tradução, tal parecia antever Noel Rosa nos 1930 – embora a tentativa de emplacar serendipidade - confirmado por maioria de linguistas partidários da falta de vocábulo capaz de transportar-lhe o significado para o português. Eis o xis da questão, tão bem percebida pelo gênio musical de Vila Isabel.
Grande Poeta da Vila! Não tem Tradução, a canção, culpa o cinema falado por inocular estrangeirismos no linguajar do malandro do morro, a quem esclarece “que o samba não tem tradução no idioma francês” - a simplicidade brejeira da letra critica o modismo disseminado à época, mesmo nas camadas mais populares, do emprego de anglicismos. O crescimento da aldeia global só agravaria a questão.
Serendipity corresponde à nossa saudade: sem tradução literal, é verdade, mas explicável: assemelha-se ao insight, uma revelação criadora surgida por acaso. A história da humanidade exalta serendipities famosas - a Eureka! de Arquimedes, a queda da maçã para Newton, a “tolle e legge” de Santo Agostinho, o scat singing de Louis Armstrong, a quietude do Cobra depois que Lord Salvanyus Gladius empregou a Brigada de Cavalaria Ligeira Praiana no zap72 e triunfou, incólume. Animado, acho ter sido agraciado com achados recentes.
Primeiro quando se levantou a bola da criação do Sargento-mor em andamento no EB, inspirada em forças militares estrangeiras. Lord Salvanyus chiou de bate-pronto, tentei socorrê-lo apelando à kultur, mas contrapôs-se enxurrada de mísseis entre os quais o mais recorrente foi - “se todos adotam, então aqui também tem de adotar”. Ponto. Nem tudo que reluz é ouro, alertou-me antigo ditado de nossos avós e logo avultaram cooptações, malsucedidas, de experimentos alienígenas. Fui à luta ... papirar.
A figura do Sargento representante do Comando persiste há séculos - saibam devotos do Sergeant major padrão US Army - inclusive no Exército Português em que hoje o Sargento-mor percebe rendimentos idênticos aos de Capitão. O tema envolve nuances histórico-culturais variadas que desprezadas certamente provocarão borbulhas refratárias à iniciativa em curso. Boas ideias? Ótimo, desde que se saiba ajustá-las a realidades por vezes antagônicas. Será o momento certo?
A querela produziu-me o efeito colateral de constatar a ausência de pesquisas e estudos sobre a formação e evolução histórica do sargento no Brasil, em contraponto aos oficiais. Daí veio o estalo: não agradaria a algum confrade, ou equipe de confrades, vir a preencher a lacuna com publicação sobre o tema? Considerei a descoberta uma serendipity à espreita de consumação integral.
Em meio a alfarrábios relendo o livro Formação do Oficial do Exército, do Cel Jeovah Motta, tive a revelação seguinte na alusão a Joaquim Gomes de Souza, gênio matemático brasileiro que praticamente ninguém conhece. Para avaliar-se a sua capacidade, Souzinha – assim chamavam o maranhense franzino – teve a ousadia de, aos dezessete anos, ser aprovado no concurso para professor da Real Academia Militar, em 1846, isso depois de aos quinze conquistar o direito de cursar Medicina; aos dezenove, dissertou sobre o Modo de Indagar Novos Astros, Sem o Auxílio de Observações Diretas, utilizado até hoje pela Astronomia; aos vinte, era doutor em Ciências Matemáticas; aos vinte e um, publicou Resolução das Equações Numéricas. Souzinha, fera de currículo que assustaria o Dal Bello, faleceu em Londres, esquecido - aos trinta e quatro anos - e assim permanece apesar de ser considerado o primeiro e maior matemático brasileiro da história.
Caros amigos:
Confesso que minhas impressões da falta de memória nacional sobre o Sargento e o gênio Souzinha estão mais para constatações que serendipities deflagradoras de descobertas. Enaltecia-as apenas para demonstrar que onde pouco se cria, e muito se copia, boas ideias e exemplos meritórios correm o risco de se transformar, como no samba de Noel, em meras conversas de telefone – Alô Boy, Alô Johnny.
Rio, 20 de fevereiro de 2016.
Dom Obá III, Contraditório-Substituto{jcomments on}.