MONSIEUR PUJOL, BAITA CANHONEIRO.

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    Joseph Pujol, francês de Marselha, arrebatou enorme prestígio em vida animada. Dito  sem maiores explicações e ignoradas suas atividades profissionais, descerram-se inúmeras suposições - teria sido político, aristocrata, militar, cientista, escritor, curandeiro, pensador, religioso, pesquisador, inventor? - ressaltada originalíssima matriz de fama e fortuna, travada sem sucedâneo. Afinal, qual era a do personagem?

    La Pétomane - sugestivo nome de guerra - foi o executor exclusivo de um tipo de espetáculo carente de antecessor ou herdeiro. "-Sou o único que não paga direitos autorais", sua frase predileta, expressa singularidade ainda a intrigar leigos e conhecedores da fisiologia humana. Despertava tamanho espanto que ao morrer a Sorbonne interessou-se em dissecar o cadáver para pesquisar as causas da estranha aptidão que o catapultara de homem simples a celebridade invulgar. Autorização negada pela família, às calendas se privou ofício inusitado de estudo científico.           

    Nosso inspirador - esclareço - era flatulento emérito, capaz de dispersar aglomerações raivosas espocando flatos de inesgotável fonte natural.  Ventosidades asquerosas? Flatos? Pois é. Muito mais surpresos, assombravam-se seus contemporâneos com as proezas, ao vivo e a cores, da excêntrica figura.          

    Esconjurando redenção ao gentio vulgar quando os fins justificam os meios e a clareza discursiva transcende o estilo, às favas pundonores semânticos por personificar Monsieur, em linguajar popularesco e chulo, peidorreiro fantástico - desculpem a crueza respeitáveis senhoras, donzelas e crianças na sala. Alto lá. Todavia estará a parsecs da realidade quem reduzir La Pétomane - versão francófona de flatulento, como se autoproclamava - a reles arremessador de puns na atmosfera, porque havia muito mais coisas entre o intestino e o esfíncter anal do personagem do que imagina a nossa vã filosofia.  

     O então adolescente Joseph percebeu-se diferente por acaso - leitmotiv da maioria das descobertas - num despretensioso banho de mar. Enquanto nadava, ao submergir e prender a respiração sentiu que copiosa água gelada introduzia-se no seu orifício traseiro, expelindo-a com naturalidade. Eureka! Incorporado ao Exército, divertia os companheiros sugando água de uma bacia pelo ânus - depois lançada a metros de distância em jatos potentíssimos. Padeiro profissional deleitava a freguesia imitando instrumentos musicais por idêntico emprego do - ops - fiofó talentoso.     

    Pujol conquistou o estrelato no icônico Moulin Rouge parisiense. Paparicado por humildes e poderosos, incomodava as cobiçadas coristas do cabaré segundo evidenciam caras e bocas inamistosas perto dele em fotografias da época - sabe-se lá se por despeito, marcação de cena ou efeito odorífico de medonhos traques em série. Eca!!! Exatamente nesse mix ponderado atração x rejeição consistia a alquimia do sucesso desafiador de fronteiras, modelando padrões de lazer da elite ao povaréu.    

     Consciente do incrível recurso de, ao bel-prazer, controlar a emissão de gases e líquidos pelo ânus, investiu na carreira artística iniciada em Marselha, consolidada no Moulin Rouge, Teatro Pompadour e apresentações que o elevaram a marca registrada da lendária Paris fin de siècle. Aperfeiçoada a exótica técnica passaria a sonorizar salvas de canhão, estrondos em geral, músicas e canções populares como A Marselhesa, Clair de Lune e o Sole Mio, entre outras. Mamma mia!!!

     Retirou-se do showbiz no início da Primeira Grande Guerra, quando a sua ingênua flatulência canhoneira deu lugar a canhões de avassaladora mortandade humana. Recolheu-se entristecido a sua Marselha natal onde retomou as atividades de padeiro, vindo a falecer aos oitenta e oito anos de idade em 1945, por coincidência logo terminada a 2ª Guerra Mundial, em oito de agosto daquele ano. 

    Tive um Subcmt no RAN que alardeava, estando montado, inculpar o inocente animal pelos seus puns estrondosos. Tremendo ingrato! Descontraído bate-papo recente revelou-me que recrutas paraquedistas exalam terríveis odores dentro de aeronaves em voo. Alô, alô, audazes alados MMM: verdade?

     Mas desconfio que Monsieur Pujol, caso escolhesse Arma, aportaria na Poderosa.

     Baita canhoneiro!

 

Rio de Janeiro, 25 de março de 2017.

Respeitosamente, Dom Obá III ... PUM!!!