DATA VÊNIA COM EMOÇÃO E SAUDADE
- Detalhes
- 14 Jan
- Acessos: 52
Faleceu em 30 DEZ 2024, Luiz Antônio Peres de Oliveira, publicarão as certidões protocolares sobre ser humano que sai da vida para a eternidade, privilegiado pela coragem, a irreverência e a sabedoria existencial que dele fazia figura singular neste mundo. Há décadas, o primogênito de dona Lila e do capitão Oliveira, antigo combatente da FEB, relegara a quase ostracismo o nome de batismo, incorporando a persona fantástica de Cobra – alterego que o elevou a personagem imortal nas memórias da Turma que ele tanto amou e projetou.
Muitos clichês poderiam ser atribuídos ao Ofídio Saltador: alegre, destemido, polêmico, flamenguista soberbo, paraquedista orgulhoso, artilheiro-raiz, excelente profissional, pai amantíssimo, provocador contumaz, advogado diletante, kaôzeiro – ele adorava o neologismo –, e outros tantos, superados pela indestrutível afeição de infância à Penha Circular onde nasceu, viveu e partiu para adentrar os domínios celestiais. Ele sabia como ninguém animar as reuniões mensais na Praia Vermelha, aditivado por conduta histriônica que despertava reações extremamente bem humoradas ou críticas exacerbadas, quando disparava disparates desprovidos da lógica elementar entre o céu e a terra, entre a razão e a insanidade bondosa. Ali se manifestava em verdadeira grandeza o espírito galhofeiro que propagava ao se dizer curatelado principal de Omar K e, em segundo instância, deste admirador da sua capacidade de reinventar-se a cada momento no surrealismo da própria existência.
Inteligentíssimo, percebia-se alvo das plateias como polo de atenções, para frustração dos idiotas da objetividade que todos somos um pouco. Autêntico ator em potencial surpreendia o mais arguto analista da força da natureza que nele irrompia na alegria de viver invulgar. Jamais apagarei da retina a sua imagem no auditório da AMAN, durante as comemorações de Cinquentenário do Aspirantado 72, logo após o diagnóstico da doença fatal e já submetido a tratamento hospitalar. Contrariando conselhos e evidências adversas severas, deslocara-se a Resende para curtir imperdíveis reencontros, junto com familiares queridos. Era o Crotalus Coragem, arriscando a saúde combalida para festejar velhas amizades.
Portou-se até o fim sem lamúrias ou imprecações contra a moléstia cruel. Na reunião da Pioneira de meia dúzia de dezembro corrente, pressenti, pela primeira vez, certo desalento do guerreiro que lutou o bom combate. Porém, a clássica fotografia na escadaria do CMPV imortaliza a imagem sorridente do Cad Art 715 / 72, a brindar, pela última vez, ao lado de companheiros diletos.
Estimado Kobra, de mil heterônimos e indeléveis recordações para todos que você alegrou com causos e irreverências inesquecíveis: enquanto houver uma aeronave da Brigada a sobrevoar a Penha Circular dos seus amores, haverá uma lágrima a reverenciar a memória saudosa do irrequieto garoto da boina grená.
Nos umbrais etéreos do firmamento, soam trombetas em homenagem ao Eterno Herói.
Data vênia permita-me saudá-lo com emoção e saudade.
Rio, 30 de dezembro de 2024.
Cad Cav 1039 / 69 -72, Nilo.