Reunião da Tu MMM 72/ RJ

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A ARTE DA AMIZADE

    Orson Welles atribuía dose de mentira implícita a qualquer relato humano, simplesmente porque caso duas pessoas observem algo, nenhuma delas contará exatamente o que a outra contou, cada qual externando percepções – ou distorções – inerentes às suas representações individuais da realidade.  
    Em O mundo como vontade e representação (1819) o filósofo alemão Arthur Schopenhauer traduziu o fenômeno de forma mais erudita, enquanto antigo político mineiro, matreiro, foi curto e grosso: “a versão é mais importante que o fato.”
     Ciente dessas constatações filosóficas, receio falhar no impulso de reproduzir o festival de emoções reinante no CMPV, ontem à tarde, proporcionado pelo expressivo número de confrades que atenderam à convocação do Grande Irmão João Meirelles.

    Saint-Clair, Ângelo, Mello, Bastos, Derré, Nilo, Ayrton, Volotão,  Cereigido e o seu filho vascaíno, Melquíades, Ivan Piranha, Paulinho, Hamilton Cordeiro, Mota, Nonato, Cossa, Barcellos, além do Joe May, comprovavam a energia telúrica congraçadora uma Turma associada a inexplicáveis desígnios extra-sensoriais de planos metafísicos inalcançáveis a dissecações racionais. Não enxergamos, mas pressentimos como a atmosfera mágica do CMPV a cada mês nos eleva a indivíduos melhores, mais alegres, mais gentis, mais fraternos, remoçados no convívio presencial de indestrutíveis amizades. Como que por encanto, desavenças vulgares de redes sociais fenecem diante de reencontros desejados, gestos afetuosos, brincadeiras e descobertas impensáveis.
    Creio que no retorno aos seus domicílios, tais participantes conquistem elogios de familiares próximos, ao perceberem diferenças visíveis de comportamento transmutados por visões idílicas da Praia Vermelha, da agradável brisa marinha, das tradições escolares e festeiras de importante sítio histórico, do tônus transbordante da camaradagem assentada em mais de cinco décadas de experiências afins.
        Nesse sentido, oportuna se fez a breve polêmica nesta semana instaurada contra a permanência das CNTP no CMPV, prontamente rechaçada pela quase totalidade dos manifestantes. Em agosto próximo, o DNA da Turma completará a maioridade de 18 anos no velho Círculo, registrada a partir da reunião fundadora de agosto de 2004, convocada pelo inesquecível Pimpim. Desencavar argumentos relançados ao limbo da história, apenas fortalece a lembrança de o Círculo Militar da Praia Vermelha ser o palco preferencial de nossos melhores momentos juntos na inatividade profissional.
    Sem dúvida, daqui a dez ou vinte anos, os remanescentes da Intrépida Turma lá estarão recordando o espírito festivo, as celeumas, os registros fotográficos das 15:00h, as despedidas sentidas, o acionamento vão de antigo canhão contra fantasmagóricas esquadras de corsários na Baía de Guanabara. Evocarão episódios marcantes como o de veia poética proclamada aos quatro ventos e a plateia extasiada com espetáculo nunca dantes apreciado naquele lugar. De repente, sob as bênçãos de Calíope, assomaram poemas declamados pela alma e o coração vibrante de Tamarzinho, agora nome artístico do encanecido Boita de Itararé, Itamar Teixeira Barcellos.     
     Ao extrair o melhor de si, desnudou generosidade anímica, emocionou os circunstantes e incentivou a criação de  momento cultural nas futuras reuniões, abertas a qualquer confrade para brindar o respeitável público com pérolas de sublime sensibilidade.
    Nascemos sós, vivemos sós, morremos sós. Somente o amor e a amizade podem romper o inexorável ciclo da solidão humana. Amizade que o poeta Itamar nos proporcionou através de talentosos versos espraiando felicidade e gentileza na tarde outonal de ontem, na Praia Vermelha.   
    Juntos e felizes, todos deixamos de ser solitários.

Rio de Janeiro, 9 de abril de 2022.
NPM, admirador de Tamarzinho.