O Ensino na Academia Militar das Agulhas Negras

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Ao ser instalada a Escola Militar de Rezende, com Z, grafia da época, foi nomeado o primeiro Comandante, o Coronel Mário Travassos.Na Ordem do Dia do Coronel Mário Travassos, publicada no BI nº 1 de  1º de maio de 1944, alusiva à instalação da Academia Militar das Agulhas Negras, assim referiu seu primeiro comandante: 

"É preciso que as massas de concreto armado e revestimentos de mármore de nossa Escola criem alma e falem hoje e sempre do grande momento em que definitivamente os processos de formação dos oficiais do Exército devem ser consolidados de forma a marcar época". 

Decorridos mais de 76 anos houve grande evolução da formação dos oficiais no Brasil. Ocorreram reformas, de acentuado sentido profissional. Na primeira foi diminuido o bacharelato em Ciências Físicas e Matemáticas e o título de doutor e criou o posto de Aspirante-a Oficial; Dec 30 Abr 1913 (Escola no Realengo, subordinada ao EME). Para o ingresso na EMR era exigido 6 meses como soldado ou curso integral num II Colégio Militar. O ensino enfatizava as instruções sobre Cavalo de Guerra, Jogo da Guerra, Combinação de Armas, formação de GU em pé de guerra e informações em campanha).

Pelo Dec 22 977, de 24 Abr 1918 foi enfatizado a fala de inglês e francês, Jogo da guerra, Artilharia Naval e de Costa, combinação de Armas e Comunicações); O Dec 13 577, de 30 Abr 1919; Boletim 19-EME ou 26 Abr 1922., Aprovou o programa de instrução elaborado pela Missão Indígena que revolucionou a instrução militar para melhor, constituindo-se de 1919-1923 num marco histórico no sentido de um ensino militar voltado para as necessidades da tropa).

O Dec 16 394, de 27 Fev 1924, instituiu o Curso básico de 2 anos e 1 ano para as armas, introduz Carro de Fogo, exame do 1º ano em julho. Quem obtivesse média abaixo de 3 era desligado para servir um ano na tropa.

O Dec 1 713, de 25 Abr 1929, Cria o Curso de Aviação Militar. O Dec 22 609 de 1933; Dec 23 994, de 4 Mar 1934: A História Militar passa para o ensino profissional e é criado o Departamento de Educação Física e a Seção de Equitação.

O Dec 192, de 20 Jun 1935 retorna à reforma de 1929.

Decretos nº 5 543 e 5 877, de 15 Abr e 22 Jun 1940, institui diversos estímulos aos cadetes: Livro de Ouro para os sem punição durante o curso, Medalha Duque de Caxias para o 1o lugar no ensino profissional, com entronização de seu retrato no Cassino dos Cadetes (essa prática não existe hoje).

Pelos Dec 8 918, de 4 Mar 1942; Dec 17 738, de 2 Fev 1945 (após transferir-se para Resende) e regulamentos de 1952, 1961, 1969 e o atual que entre outras características, pela primeira vez na história de nossas escolas militares passou a ministrar História Militar aos 3o e 4o  anos, como fonte de aprendizagem, através de sua abordagem crítica e não descritiva, da evolução da Doutrina Militar em seu duplo aspecto de Ciência e Arte da Guerra e de Tática e de Estratégia. Ensino que passa por um processo  de Modernização em implantação e avaliação. História do Brasil também é ministrada atualmente na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas SP. Não se fixa na história miltar. É história do Brasil.

 

O bacharelismo e o  profissionalismo militar

 

Segundo o Marechal Tristão de Alencar Araripe, que foi Diretor do Ensino Militar: "O Ensino Militar de 1810-1871 subordinava-se à doutrina de Portugal e não atendia o papel militar da instituição armada americana. Visava-se, em última análise, formar doutores técnicos em Engenharia. A preocupação da formação era excessivamente acadêmica e intelectual. Às escolas práticas ou de aplicação profissional militar dava-se valor secundário. Pouco se cuidava do uso da força armada em operações de guerra, nem se aproveitava as experiências feitas nas lutas internas e, principalmente nas campanhas sulinas. Nem o ensino atendia às necessidades da tropa, nem esta recebia os benefícios deste ensino. Os regulamentos de 1839, 1858 e 1874 tendiam para a formação de engenheiros, com cursos científicos em que predominavam os estudos de matemática pura, a astronomia e geodesia, as ciências naturais, completadas por noções de balística, ataque e defesa das praças. 

Figuravam ai sem grande ênfase, os estudos de Arte e História Militar, Tática e Estratégia (o grifo é do autor). 

O regulamento de 1874, que deveria conter, os ensinamentos da guerra do Paraguai, fez questão de olvidá-los, além de acentuar a tendência de dar ao oficial sólida cultura geral e científica, visando a formar oficiais engenheiros e técnicos em Artilharia. As lutas no Sul foram as verdadeiras escolas de aplicações do Exército Brasileiro. Apesar da evolução do Regulamento de 1898 (reação ao ano de 1890, o mais científico de todos) o ensino alcançou o século XX, com o aspecto tradicional de excesso de cientificismo e teorismo, sem levar em conta as normas práticas de emprego da tropa na guerra... O regulamento de 1905 constitui oportuna reação contra o excesso de ensino teórico da Escola Militar da Praia Vermelha. A nova seriação do ensino e o papel dos cursos das armas na Escola de Guerra (em Porto Alegre) - ´o curso da alfafa” , representou a semente da era renovadora... Mesmo com os corpos desaparelhados, tomaram os aspirantes de 1909-1918, a peito, fazer a instrução de recrutas, com métodos modernos e rara objetividade. Foi um período áureo na evolução do Exército Brasileiro como força operacional...Um dos grandes acontecimentos da batalha pelo Serviço Militar Obrigatório foi a célebre Missão Indígena na EMR (1919-22) integrada por instrutores selecionados em concurso. Sua obra contudo foi a mais fecunda realizada no Exército... O movimento de 30 desviou boa soma dos melhores subalternos e que haviam dado o melhor de seu entusiasmo à continuação do ressurgimento da atividade profissional do Exército... A mudança para Resende e a transformação foi um passo vitorioso na evolução necessária". Existe na AMAN placa alusiva aos integrantes da Missão Índigena 1919 / 21, que fica no lado Oeste da Grande Galeria ou Pérgula Sul, que foi uma reação  precursora no Exército dos integrantes da Semana de Arte Moderna, pelo seu nacionalismo em defesa de uma Arte e Ciência Militar voltada para as experiências militares passadas que eram ignoradas. 

 

A Grande Reforma do Ensino em 1905 

 

O General Francisco Paula Cidade, formado pela Escola de Guerra em Porto Alegre, pelo regulamento de 1905, baixado pelo Ministro do Exército Francisco de Paula Argolo (1897 e 1902-6), afirmou ser o referido regulamento e a Escola de Guerra em Porto Alegre, "uma grande encruzilhada do pensamento militar brasileiro", a indicar um novo rumo. E prossegue: 

"O regulamento de 1905 (voltado para o profissionalismo militar) do qual nos alimentamos em nossa mocidade, foi satirizado, recebemos a alcunha de alfafa, dada pelos que continuavam a crer que o título de doutor que o regulamento aboliu, era mais honroso do que o de oficial do Exército. Abençoada alfafa. Ela não só alimenta o muar... Como pode figurar entre os alimentos dos deuses depois que impôs tantas idéias sadias e tantas dedicações sem limites ao serviço da pátria.“ 

E conclui ao falar sob o regulamento de 1905 e seus sucessores de cunho militar mais profissionalizante, sob a égide do qual e de seus sucessores, de 1913, 1918, 1929 e 1940, formaram-se os oficiais da FEB "que pisaram os campos de batalha, ao lado dos grandes senhores da guerra sem fazer mau papel. Pelo contrário."

 

O divórcio do Ensino com as necessidades da Tropa 

 

O General Estevão Leitão de Carvalho, "jovem turco" co-fundador da A Defesa Nacional em 1913, observador brasileiro da guerra do Chaco, ex- comandante da ECEME, chefe da Missão Militar Brasil-Estados Unidos, de atuação relevante na organização da FEB, aborda de forma crítica o divórcio do ensino na EMPV com as necessidades do Exército como força operacional.