“AMAN 45 ANOS! Eu estarei lá!”
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- 16 Fev
- Escrito por AYRTON MARIA BUNA CARDOSO
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Meus prezados irmãos da Tu MMM 72 e digníssimas famílias, minhas senhoras e meus senhores, bom dia!
Eu sou o candidato nº 2040 e o cadete 156, Ayrton mais conhecido como “Arataquinha”
Coube-me, através de missão imposta, mas muito dignificante, falar em nome (sem falsa modéstia), de uma turma comprovadamente diferenciada que por aqui passou, a Tu MMM 72 e pra mim é motivo de muito orgulho.
Poderia me ater num discurso formal, mas não é minha característica e acho que também não combina muito com nossa Turma, logo, tomarei o caminho da informalidade.
Para tanto, vamos relembrar alguns episódios pitorescos que juntos passamos no decorrer dos 4 anos e que aprendemos a deglutir com muita alegria e boas gargalhadas, geralmente acompanhados de um bom chope gelado, pois esses fatos tornaram-se marcantes e inesquecíveis.
Gostaria que os senhores caminhassem nessa estrada comigo relembrando esses bons momentos. Sei que há muitos outros “causos” e cada um aí sentado irá se lembrar de uma história que aqui poderia ser contada, mas não dá pra falar de tudo, no entanto, insisto que relembre para alguém ou para si mesmo, mas que não se esqueça de dar uma boa e deliciosa gargalhada.
Logo que chegamos, janeiro/fevereiro de 1969 com aqueles ares bisonhos, mas achando que éramos malandramente espertos, já recebemos o famoso título de “candidato” e a partir daí, assim fomos tratados.
Nessa fase de candidato podemos destacar alguns episódios:
- Na apresentação inicial para recebermos nome de guerra, nº de candidato, ala, apto, armário, etc., já tivemos um companheiro oriundo lá do meu NE, que na sua ficha de apresentação constava como sendo procedente do CMPA. O instrutor vendo aquela figura característica com traços nordestinos estranhou e fez a seguinte pergunta: Candidato! Você veio do Colégio Militar de Porto Alegre? De imediato o meu conterrâneo com um bom arataquez respondeu: Não senhor! Vim do Colégio Municipal de Paulo Afonso!
- Outro episódio marcante aconteceu com os “preposos”. Chegaram usando a camisa bege do novo uniforme da Prep e muitos veteranos desavisados chegando de férias não conhecendo o uniforme prestaram boas continências no padrão: “atitude, gesto e duração”. Lógico que depois custou muito caro aos jovens bichanos, mas foi um prazer responder as continências com muita vibração.
Bem meus senhores, no dia 01 de março de 1969 passamos em solenidade pelo Portão de Entrada dos Novos Cadetes, aberto que foi pelo nosso querido claviculário Piranha, o mais jovem integrante do nosso efetivo, onde naquele momento de “candidato” passamos a ser chamados pelo título de cadete, iniciando-se, assim, o nosso 1º ano.
Nesse ano podemos destacar uma passagem considerada filosófica.
No alto da sua sabedoria e perante uma formatura da Cia, o Cap. Cmt lançou o seguinte pensamento:
“Cadete! Hoje você está de cinto sujo, amanhã você vai desviar avião pra Cuba!” Belo pensamento!
Um fato bastante interessante e que cabe aqui registrar é que naquele tempo não havia essa história de bullings, era apelido mesmo e ponto final, portanto meus amigos, não vamos ficar chateados, pelo contrário, essa é a hora de transbordarmos alegria com sorriso no peito e o coração a gargalhar.
Outro fato interessante e que vale a pena relembrar.
Todas as turmas possuem um codinome, um apelido e a nossa não poderia ser diferente. Como surgiu o nosso?
Bem, após o jantar, pessoal de serviço reunido no EM, eis que se iniciam cânticos acompanhados ao som de atabaques vindos do bosque. O Sup. de Dia intrigado mandou uma equipe de serviço para averiguar (Aux. Of Dia, Adj. 1 e 2). A equipe ao chegar ao bosque se deparou com um ritual espírita, com tudo que tinha direito, as oferendas, velas, danças, trajes característicos, cantos, tudo sendo conduzido por 2 companheiros da nossa turma, pais de santo altamente renomados. A equipe de imediato, receosa de interferir no processo, retornou e reportou o fato ao Sup. de Dia, que também, por sua vez temendo algum tipo de represália por parte dos espíritos incorporados, apenas registrou em livro. Desta feita a notícia correu alas e passadiços e nossa querida turma recebeu o codinome de “Turma Macumbeira”.
Veio o 2º ano e com ele os Estágios da SIEsp. (Aqui cabe uma ressalva: as nossas homenagens, a nossa gratidão e os nossos parabéns à Sessão de Instrução Especializada pelos seus 50 anos de existência). É na SIEsp onde podemos saborear vários episódios pitorescos.
Estágio de Montanhismo: Guarda Bandeira.
Integrantes da Guarda: Melo Galinha, saudoso Velho de Com (Cabo Zona) e Eu Arataquinha. Pela manhã tudo ok, hasteamos o Pavilhão Nacional com todas as pompas. Deu tudo certo. Às 18h00 horas, no arriamento, é que foi o problema. Turno em forma, tudo pronto, saímos em hop-hop, nos colocamos em posição próxima ao mastro, início do toque de em continência a bandeira apresentar armas, o Velho pegou no tirante pra iniciar o arriamento, de repente a bandeira soltou do mastro e começou a cair. Só escutei o pobre Velho em voz chorosa exclamar: Ai meu Deus! “Tamo ferrado!”... A partir daí ele como louco começou a correr atrás da bandeira pra que ela não caísse no chão. Ao pegá-la ainda no ar, sem saber o que fazer, estendeu a bandeira com os braços esticados como se mastro fosse e ficou esperando acabar o toque. Lógico que os instrutores tinham sabotado a bandeira e que pagamos um preço altíssimo pelo incidente.
Veio o 3º ano e com ele um dos episódios mais marcantes: “O só pra controle!” Quem não se lembra do Só Pra Controle?
Ficou tão marcante que o próprio Cmt que criou este jargão passou a ser conhecido como Cap. Só Pra Controle. Lá vem o Só Pra Controle!; Sinceramente não me lembro do nome de guerra dele, mas do Só Pra Controle, ah! Isso jamais esqueceremos.
Um “causo” operacional: Estávamos nós em Apronto operacional padrão no Campo de Parada. Tropa de cadetes em forma vibrando, perfilados, imóveis.
Armamento, cinto de guarnição, cantil, mochila, paus articulados, estacas de queixo, meio pano de barraca, ferramenta de sapa. Todos atentos, imóveis, disciplina de ruídos. De repente um brado: “O que é isso Cmt? Assim não dá! Quero padronização! Ou todo mundo de pá ou todo mundo de picareta!”.
Lógico que a disciplina de ruídos foi quebrada com sussurros e abafadas gargalhadas.
É meus senhores, bons e divertidos momentos!
Chegamos no 4º ano.
Agora sim!...Já somos até chamados de Aspirantes. Como já relatei anteriormente os Estágios da SIEsp sempre nos trouxeram grandes episódios pitorescos e com ele o de Fuga e Evasão. Fizemos história. Cada um fez a sua. Chegamos ao nosso limite. Muita gente que primava pela etiqueta, “o não me toque”, todo provinciano e colocando sempre em prática nossas saborosas aulas do Prof. Fraga, lá no campo de concentração aprendeu a comer com a mão o fubá com água do brejo colocado sobre a ponta da camisa e a beber água de quatro numa lata de goiabada sem botar as mãos como se animal fosse.
Ééééé! Já imaginaram depois do décimo a beber água como ela ficava. Um caldo só! E todos achavam maravilhoso, uma delícia!
O mais interessante foi quando o chefe do campo de concentração depois de amassar com suas botas sujas de lama o fubá que estava dentro de uma marmita térmica sem tampa no interior do campo e ainda não satisfeito ter dado um bico na marmita derramando quase todo o fubá no chão fazendo com que a equipe de cozinha da qual eu e meu compadre Lobo fazíamos parte catasse raspando do chão o fubá misturado com terra pra fazer a alimentação diária. O mais interessante repito é que ninguém reclamou. Queriam até rep.
Dia da fuga, todos exaustos, com fome, sede, fracos física e mentalmente, partimos em pequenas frações com destino às linhas amigas, ou seja, ao Aeroporto de Resende. Posteriormente viemos saber que o campo de concentração estava localizado na Serra da Bocaina.
Foi exatamente depois de muita caminhada através campo e elevações, fugindo das patrulhas inimigas, adrenalina imperando, e após muita insistência de alguns resolvemos fazer um alto para um pequeno descanso.
Óbvio que muitos dormiram face ao cansaço. Foi exatamente ao darmos o brado para reiniciarmos o movimento que um companheiro acordou sobressaltado e já numa fase de pré-surto, começou a gritar: “Não me deixe aqui, não me deixe aqui não, senão eu vou virar um grilo!” É meus amigos a situação estava crítica. É óbvio que nós não o deixamos como também ele não virou grilo.
E por aí vai! São boas recordações.
Chegou o grande dia! 16 de dezembro de 1972. 4 anos mais tarde, 354 integrantes fardados de oficial do Exército Brasileiro, transpondo o portão oposto ao da nossa entrada, ou seja o Portão dos Novos Aspirantes, desta feita saindo e registrando uma história de 4 anos de alegrias, tristezas, saudades, lamentações, vibrações, mas acima de tudo uma grande e efetiva amizade fraterna, impregnados de muita força e fé para uma nova vida, uma nova missão, levando a todos os rincões do nosso imenso Brasil, a sabedoria, a alegria, o companheirismo, o profissionalismo tudo inerente a essa grandiosa Tu MMM 72.
Ééééé meus caros, nesses 4 inesquecíveis anos quem não trocou um ovo por uma maçã ou mariola do catanho? Quem no frio da madrugada não pegou um pãozinho quente lá na padaria? Quem não fez uma carícia ou mesmo olhou com carinho pra Maísa? Quem não passeou à noite na O Botelho e vez por outra deu uma esticadinha até o Bambuzinho? Quem não levou um “comando” ou tem uma história pra contar das aulas de equitação?
CAVACO que o diga. Quem como Aspirante não se achou o dono do mundo com aquele reluzente carro novo? Teve gente que em vez do carro novo preferiu casar. São lembranças inesquecíveis.
Vai aqui o registro e a nossa eterna gratidão aos nossos mestres, instrutores, monitores, funcionários civis e a todos que direta ou indiretamente foram os grandes
responsáveis pela nossa impecável formação.
Quero também nesse momento ímpar aproveitar a oportunidade para prestar nossas homenagens àqueles que já passaram para o andar de cima e que com certeza em formatura solene nos esperam, em especial aqui me permitam todos citar o companheiro Newton (o nosso saudoso Niltinho) em homenagem à Maninha que nos tem acompanhado com seus filhos em nossos Encontros, representando ela e eles todas as viúvas, filhos, filhas, pais, mães e familiares. A todos os nossos queridos irmãos que agora respondem pernoite no céu nossa saudade e eterna continência.
“Brasil Acima de Tudo e abaixo de Deus!” Muito obrigado!