Falecimento do Ismael - 15 Fev 2017 - Estamos de Luto!
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- Criado: Quarta, 15 Fevereiro 2017 16:45
- Última Atualização: Terça, 21 Fevereiro 2017 10:38
- 15 Fev
- Escrito por NILO PAULO MOREIRA
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PARA SEMPRE ISMAEL
Conde de Bonfim com Alzira Brandão, coração da Tijuca. Na pizzaria movimentada de uma noite particularmente quente e animada, colocam-se tabuletas de reservada sobre mesas enfileiradas para os participantes do aniversário que será comemorado. Naquele dia vinte e sete de junho, familiares e amigos prenunciam momentos alegres e divertidos no reencontro agradável do homenageado.
Pouco a pouco, a chegada dos convidados se alastra a ponto de destacar-se rápida ocupação das mesas reservadas em relação às demais. Entre conversas e petiscos consumidos, a ausência do aniversariante causa crescente estranheza e nervosismo a convidados mais apreensivos diante da crônica (in) segurança carioca.
Quase duas horas passadas, já sob o risco de eventuais deserções do recinto confirma-se o paradeiro do personagem esperado: tomado por irrefreável surto passional, torcia pelo Fluminense no Maracanã, esquecido da sua programada festa de aniversário. Surreal? Desatino? Ficção de novela? Nada disso, apenas uma sortida clássica do inigualável Ismael, o eterno e agora saudoso cadete 472.
Tal a Gilda de Rita Hayworth, nunca haverá ninguém como o Ismael. De extração singular ele viveu como quis, tanto para o melhor quanto para as agruras de si mesmo, incluindo os desmazelos da saúde que, infelizmente, cedo o fizeram retornar ao pó da existência. Mas a singularidade da sua maneira de ser ficará marcada pela bondade, alegria de viver e uma coragem intempestiva de se expressar sem disfarce ou rodeio.
Gostassem ou não gostassem, e era praticamente impossível dele desgostar, alegrava qualquer ambiente. Na Ouvidoria da 1ª Região Militar, da qual foi o primeiro chefe durante aproximados treze anos, solucionava pendências com uma descontração destruidora da tensão natural de pleitos e reclamações. Transformava o trabalho em autêntico consultório psicanalítico, onde as gargalhadas e reações dos pacientes perante o Doutor correspondiam a verdadeira catarse libertadora. Conheço gente que acorria ao PDC sem pressa e motivo, só para apreciar as broncas impulsivas, os descalabros verbais e a curtição do politicamente incorreto que nele ilustravam a personalidade de um sujeito sincero, afetuoso e moralmente destemido.
Foi coerente até o fim, mesmo quando a intransigência poderia prejudicá-lo. Teimoso? Talvez. Falso, enganador ou oportunista? Jamais. Acima de tudo autêntico, bom e honesto nos propósitos em que a paixão familiar e a afeição ao Exército - principalmente à Turma Marechal Mascarenhas de Moraes, a Turma de 72 - não encontravam paralelo.
Quando um integrante da Turma sai de forma deixa um vazio irreparável, um sentimento de perda sofrido que nos recorda do reagrupamento em outras paragens. Ao partir, o Boca enfraquece o espírito galhofeiro da nossa antiga juventude descompromissada, a alegria coletiva, as gaiatices destravadas, os arroubos inconsequentes e as situações engraçadas que ele provocava como ninguém.
Por detrás do seu notório temperamento histriônico refulgia um arguto observador da natureza humana, um prestidigitador de condutas, um sábio que a partir de agora será reconhecido em verdadeira grandeza. Lembro-me que só comparecia às reuniões no CMPV se houvesse quórum julgado suficiente, e para certificar-se ligava antes perguntando sobre o número de presenças, como um artista cioso de apresentar-se apenas para plateias qualificadas.
Graças a ele, a Turma atingiu contornos míticos no PDC. Do recruta ao general de quatro estrelas apregoava orgulhoso ser da Turma de 72, na repetição de um mantra deflagrador de admiração, temor e respeito que tornou incomparável a MMM para várias gerações de militares. Foi, sem dúvida, o nosso maior propagador.
No velório, enorme tristeza se acumpliciava a recordações do seu espírito alegre e festeiro. Não se atingiu o extremo de bateria da Mangueira e de passistas, como era desejo expresso dele, mas a diversidade de casos recontados aumentava a saudade da sua convivência querida.
Se ás vezes o alertava sobre precauções com alimentação e saúde, respondia mais ou menos assim: - "Deixa pra lá ... quando eu morrer só quero uma sala com o meu nome no PDC".
Estimado Ismael:
Seja ou não homenageado no Palácio Duque de Caxias, você estará para sempre guardado nos corações e mentes de familiares, companheiros e amigos, em especial os da sua gloriosa Turma.
Ao Ismael, eterno Cadete 472, as saudades da sua Turma AMAN/72.
Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2017.
Cad Cav 1039, Nilo.