73ª REUNIÃO da Tu MMM 72/DF: o Tenente e o Xerife da Barraca Nº 7
- Detalhes
- 04 Set
- Acessos: 2703
A tradicional reunião dos integrantes da Turma Marechal Mascarenhas de Moraes, Tu MMM 72, que residem no Distrito Federal (Tu MMM 72/DF), destinada a permitir a confraternização de velhos soldados, que amam e celebram a vida, foi cercada de relativa ansiedade.
O fato do Wankes confirmar o comparecimento do General Sá Rocha, nosso instrutor na gloriosa Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), fez retornar fatos e versões acerca de acontecimentos registrados em nossa memória. Inicialmente, é preciso ressaltar que retomar o contato com os oficiais instrutores da AMAN, que atuaram no período de 1969 a 1972, é atividade que enche a todos de muita expectativa e, como já relatado, imensa ansiedade.
Considerando que esses oficiais instrutores estão na faixa dos setenta e três anos, cresce a expectativa, inicialmente, pelas condições físicas que são possuidores, no momento do encontro. As notícias voam com o advento da internet e essa facilidade de comunicação proporciona a necessária segurança para evitar desilusões ou constrangimentos nesses encontros. O tempo entre a formatura na AMAN e o encontro programado soma mais de quarenta anos e, como é natural, muita estrada foi percorrida, muito suor foi derramado, alguns quilos foram adquiridos, as marcas de alegria e sofrimento estão registradas na face.
Os integrantes da Tu MMM 72/DF, também, já não ostentam a juventude dos seus vinte a poucos anos. Estampam a realidade de quem já passou dos sessenta e cinco anos bem vividos. Carregam a alegria de garotos, retratada no corpinho maltratado pelo tempo. Porém, estão de bem com a vida e a celebram em momentos como os que são, rotineiramente, vivenciados na última sexta-feira do mês, na varanda do restaurante do Clube do Exército, situado no Setor Militar Urbano, na capital federal, a partir das 12h00min ou mesmo antes. Como de costume, ao chegar a varanda do restaurante, território demarcado por significativo banner, símbolo máximo da confraria Tu MMM 72/DF, deparei com alguns companheiros da Turma AMAN/1975.
Os “bichos” estão se reunindo, também, para celebrar a vida. Abraçar esses diletos companheiros de farda, que escolheram residir no Distrito Federal, é um privilégio imensurável. Constatar que outras gerações de oficiais se reúnem e congregam sentimentos de fraternidade e convivência sadia é reconfortante. Mas, o motivo da reunião é rever o ex-instrutor. Portanto, abraço os primeiros a chegarem ao encontro e divido com eles a alegria do momento. Compareceram ao evento os seguintes confrades: Wankes, Brito, Arakaki, Magalhães, César, Figueiredo, Valentim, Armando, Breide, Ribeiro Souto, Florêncio e Baciuk. A conversa ganha um ritmo frenético e os temas são os mais diversos. De repente, silêncio respeitoso impera: chega o convidado de honra. O General Sá Rocha desloca-se com desenvoltura e cumprimenta todos os presentes. Sinto o carinho dispensado por todos os presentes a quem foi um dos responsáveis por nossa formação profissional, influenciando de forma direta aqueles que procuravam, por intermédio dos estudos, da dedicação, do comprometimento, dos exemplos dos oficiais instrutores e professores, alcançar a estrela de aspirante e servir ao Brasil. A partir dos abraços, inicia-se a tradicional troca de perguntas que marcam eventos dessa natureza. Todos desejam saber da real situação do eterno instrutor. Se ele reside no Plano Piloto ou outro local. Se frequenta reuniões de integrantes de sua Turma de formação na AMAN, no ano de 1965.
Alguns, fazem comentários sobre o filho do General e querem saber as perspectivas do garoto na carreira militar. Outros, procuram recordar momentos marcantes da nossa vida como cadete e a participação do então tenente em determinados episódios. Tudo é motivo de sorrisos e satisfação. Como é bom recordar fatos passados e que tiveram repercussão no futuro. Aguardava-se, com muita expectativa, a conversa entre o xerife da barraca número sete e o instrutor da Seção de Instrução Especial. Como se comportariam o cadete Baciuk e o tenente Sá Rocha, ao recordar passagem eletrizante durante o Estágio de Montanhismo? Vale lembrar que o então cadete Baciuk era o “xerife da barraca sete” e, como tal, tinha responsabilidades inerentes a tão elevado cargo. Pensem, então, no nobre cadete, com pouca experiência militar, submetido a carga estressante de ordens e contra-ordens. Acrescente, a tudo isso, a baixa temperatura reinante no sopé do Pico das Agulhas Negras, no mês de junho, qualquer coisa próximo dos dois graus Celsius. Imaginou? Pois some, também, chuva fraca e intermitente. É o caos. Basta uma distração ou a incompreensão aquilo que foi determinado pelo tenente Sá Rocha ou outro instrutor para desandar tudo. Foi o que aconteceu. O vacilo do estagiário Baciuk, em algum momento da atividade, acarretou que ele passasse a enfrentar situações complicadas durante o Estágio. Consta que, em determinado momento, o tenente Sá Rocha acionou o “xerife da barraca sete”. Nesse instante, o Baciuk encontrava-se despido, em procedimentos para a troca do uniforme molhado por outro seco. Momento importante, de recuperação física e psicológica.
Não foi possível terminar a manobra. A necessidade em atender o chamado do tenente exigia rapidez e pronta resposta. Lá foi o cadete vestir a roupa molhada e atender o tenente. Pense em uma situação difícil. É claro que o cadete é superior ao tempo e não houve complicações relacionadas a saúde do Baciuk e, também, dos demais estagiários. O frio, a chuva e o desconforto era para todos. Apesar do barulho produzido pela bicharada, procurei ficar atento a trecho do diálogo entre o cadete e o tenente. O cadete Baciuk disse ao tenente: “o senhor era muito rígido e, em alguns momentos, até ultrapassava os limites da convivência normal entre superior e subordinado”. O tenente respondeu ao cadete: “era necessário”. Foi o bastante. A necessidade de atender a alguns companheiros que tinham compromissos naquela tarde adiantou a hora de estabelecer o dispositivo para a fotografia que materializa a reunião, já que ela serve, também, como álibi para situações desconfortantes com a patroa. Antes do tradicional parabéns para você que homenageia todos aniversariantes do mês de agosto, o Baciuk foi convidado para realizar a saudação ao General Sá Rocha. Em suas palavras o Baciuk destacou a importância de nossos instrutores e professores na formação profissional, na solidificação de virtudes militares e, em alguns poucos casos, na confirmação da opção de carreira escolhida. Afirmou que éramos jovens sonhadores, em pleno gozo de saúde, prontos para conquistar o mundo e qualquer abalo emocional poderia comprometer o curso e a carreira. Era preciso muita dedicação dos instrutores para manter aquele contingente de cadetes focados na carreira militar e ultrapassar a fase difícil enfrentada pelo Exército Brasileiro, em razão da fraca opção dos estudantes pela AMAN. Agradecendo, o general Sá Rocha manifestou a alegria em estar sendo homenageado pela Tu MMM 72. Lembrou o momento difícil em que passava a nação, em virtude da ameaça comunista que pairava sobre o Brasil. Disse que foi preciso adaptar o currículo normal da Academia Militar para enfrentar o perigo eminente.
Entendia que a nação necessitava de jovens oficiais determinados a defendê-la, com atos e ações que poderiam se igualar ao sacrifício da própria vida. Finalmente, que foi necessário testar o valor dos cadetes e submetê-los a condições inimagináveis para um curso regular de formação de oficiais da AMAN. Foi aplaudido, entusiasticamente, naquele momento, por seus “jovens cadetes”. O bolo, ofertado pelo Armando era, segundo opinião unânime, uma obra divina e compatível com a Tu MMM 72/DF. É claro que alguns se recordaram da torta que foi consumida no encontro de junho, encomendada em estabelecimento de renome em Brasília, de preparo inigualável, mas de tamanho incompatível com o evento e a natural predileção por sobremesa, por parte dos integrantes da Tu MMM 72/DF. Ao me afastar do recinto, fiquei refletindo as palavras do General Sá Rocha: “era necessário”. Sim, como era necessário. São quase quarenta e quatro anos que nos separam do período em que éramos cadetes.
Mas, as lembranças daqueles dias não me saem da memória. Como era maravilhoso ser cadete e ambicionar, um dia, apenas, alguns cursos na carreira militar. A propósito, a bicharada estava muito entusiasmada e, em alguns momentos, foi necessário ameaçar de “evacuar o balcão”. Fui! Simões Junior