GENERAIS SIMPÁTICOS

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altaltalt

Declaração espontânea e singela, em conversa informal, há dias aguçou-me os neurô­nios – “Até os generais de 72 são simpáticos”-. Advinda de pessoa conhecedora de su­cessivas gerações de formandos da ECEME, a breve sentença sugeriu fidedignidade tan­tas vezes a ouvi em locais e circunstâncias distintas. Entre orgulhoso e intrigado, embo­ra mero cerra-fila da Tu MMM 72, corri a tentar dissecá-la.

Logo descartei a carranca matinal do Domingues, aliás, simpaticíssimo no decorrer do dia, pois justificar a costumeira abertura do seu PDR às dez da manhã continua desafi­ando estudiosos do comportamento humano. Na verdade, ninguém resiste a espasmos ocasionais da chamada Síndrome de Paca, que na semana passada afetou o estimado zen-califa Damerran Smith, quando imperativamente instado a comparecer ao mercado peixeiro da Aldeota Meireles. Desconsideradas mossas superficiais ao bom humor, no ICMN, prossegui concentrado na missão.

Recorramos à lógica elementar. Se “até os generais são simpáticos”, daí decorre cons­tatação óbvia de igualmente o serem os não-generais, talvez em porções mais generosas. Feliz com a imagem da Turma, percepção inequívoca, porém, perturbou-me a razão: se­ria a antipatia condição sine quae non para ser general? E quedei a refletir, enveredando por suposições impensadas.

Remexendo baú de reminiscências ao longo de quase cinco décadas, publicações ante­diluvianas, fotos carcomidas, e fatos recentes que subsidiassem opinião isenta, ao aces­sar o sítio da Turma comecei a desvendar certo encanto conformador do espírito que a diferencia das demais. E assomou o valor da simpatia.

Na folha de rosto, mosaico autoexplicativo retrata a concorrida posse do Benzi, no STM. Ali parcialmente se desfaz o mistério, no evento prestigiado por elegante repre­sentação de confrades a evidenciar indisfarçável alegria pela assunção do ilustre inte­grante da Turma à superior instância da justiça militar. Todos sorridentes, sobremodo o novo ministro, atestam o quanto a simpatia pode conviver em harmonia com a liturgia do generalato.

Nos registros de reuniões mensais, em Brasília e no Rio, nos arquivos, planejamentos e preparativos de encontros anuais, e em avisos rotineiros transparece o perfil de uma Turma sem igual. Mesmo na aguda tristeza da saudade dos que se foram sobressai a gentileza de evocar eternas figuras queridas. Alguma conjunção astral favorável terá se­lado a senda de 72?

Mais adiante, lembrança e solicitação tardias me atormentam. Tratam do aniversário do Ângelo e de pedido a este escrevinhador relapso para recuperar o texto da saudação ao KbçA, nas comemorações dos 40 Anos, Presente! Procurei, vasculhei e ... nada. Deve ser culpa do Internauta Qualquer, o famoso hacker nefando especializado em ba­gunçar o território virtual da Turma.

Reconhecer o apostolado do Ângelo excede o resgate das poucas palavras pronuncia­das naquela manhã festiva de 2012, porque notabilizado nos corações e mentes. Ele e o Brito, apenas eles, são os artífices dessa liga especial agora a me encorajar a dedilhar o teclado na suposição vã de ser aclamado por centenas de confrades, do Oiapoque ao Chuí. Ou, em contrapartida, de lhes propiciar reações desencontradas, da indiferença fria à recepção calorosa.

O mínimo a se dizer do KbçA é que se trata de enciclopedista atuante. Traz sempre às mãos, digo, à cabeça, informações atualizadas sobre cada integrante da gloriosa grei. Às vezes o provoco sobre o paradeiro de alguém desaparecido desde as lonjuras do carro de fogo, por exemplo, e ele responde sem pestanejar, atrás daquele sorrisinho enigmático que nunca sei ser de gozação ou de resignação diante dos continuados vexames do nos­so “Vascão”. Sua memória prodigiosa alimenta a suspeita, quase lenda, de existirem di­versos “Ângelos” corporificados num só, tamanha a capacidade expandida de armaze­nar e processar dados. De eternos descrentes já ouvi - “também...com a circunferência da cabeça dele é mole, até eu” – o que reputo como pura inveja, pois na pior das hipóte­se ele demonstra excelente aproveitamento do seu HD natural. Mas não está só.

O querido Velho, sempre jovem Brito, representa o outro pilar estrutural do dinamis­mo comunitário de 72. Quando tudo parece conspirar contra, graças a ele recorre-se ao privilégio de refrescar as ideias no site MMM, zapeando atuais e antigas notícias, obser­vando imagens de amigos distantes, cultivando doces e amargas lembranças, retempe­rando-se em saudáveis referências afetivas. Inspirados nas fantásticas tabelinhas Pelé­-Coutinho, Ellington-Strayhorn ou Tom-Vinícius, o Brito e o Ângelo proporcionam o suporte documental-tecnológico-subjetivo ao flamejante espírito corporativo da Nação/72, que sem a devoção deles à preservação da memória grupal certamente não seria reconhecida através das peculiaridades que a singularizam. Sem eles, sobreviveri­am enclaves isolados de uma comunidade desunida pós-diáspora final da inatividade. Com eles, perpetua-se uma Nação tornada independente em 16 de dezembro de 1972.

Os nossos generais, de fato e de direito, estendem a admiração da Turma às pessoas que os conhecem. Observaram que o exercício da autoridade não subjuga a simpatia, nobre sentimento tão associado à liderança na maneira de ser da gente brasileira. Foram, e são sábios, melhor cumprindo os seus elevados desígnios funcionais associados à esti­ma dos circunstantes.

O Ângelo e o Brito, generais de fato na benquerença da MMM, que muito lhes deve, bem personificam a alma desta Nação especial, através da dedicação, do conhecimento e da competência que lhes são sobejamente reconhecidas. Além, naturalmente, da sim­patia congênita de 72 ...


Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2014

Dom Obá III, arauto da simpatia responsável.{jcomments on}