DENOMINAÇÃO HISTÓRICA – 10º GAC Sl - Palavras do Comandante

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  • Senhoras e senhores, muito boa noite.
  •  Inicialmente, gostaria de dizer que, desde meu ingresso na Artilharia, há mais de 24 anos, quando o então TC Theophilo (Henrique) era Comandante do Curso na AMAN, eu jamais – e repito – jamais poderia imaginar que as trilhas do destino fossem nos conduzir até este momento de impressionante convergência. 
  • Qualquer artilheiro sabe que o nome Theophilo sempre vem carregado de um simbolismo peculiar. E em todas as vezes que tive contato com alguns desses militares diferenciados, ficou evidente para mim que essa aura de respeito não tinha surgido do mero acaso, nem apenas da prerrogativa de poder usar barba, mas sim de uma sólida formação moral e profissional que passa, com todos os seus rigores, de uma geração para a outra, desde o seio familiar e os acompanha no prosseguimento de toda a carreira, de toda a vida. Por isso, eu tomo a liberdade de aproveitar essa ocasião para homenagear não somente o valente militar que passa a emprestar seu nome ao nosso Grupo, mas a toda esta bela e exemplar família.
  • Quis o destino que eu tivesse a honra e o privilégio comandar esta valorosa unidade de Artilharia - operacional, vibrante, diferenciada - exatamente na época em que ela recebe a justa denominação histórica de “GRUPO GENERAL MANOEL THEOPHILO NETO”, em solene homenagem ao patriarca dessa tradicional família de militares, ou ainda melhor, dessa família de soldados, no mais nobre e profundo significado dessa palavra.
  • Entretanto, tenho certeza, os Theophilo também não imaginariam que essa feixe convergente de trajetórias viesse trazê-los à selva e os tornasse permanentemente ligados a este chão, já que suas raízes mais remotas os remetem à aprazível cidade de Fortaleza-CE.
  • Mas. ao que parece, tudo começou por iniciativa deles mesmos, quando em 1977, um dos Theophilo, que está aqui sentado conosco, escreveu um consistente trabalho indicando a possibilidade de emprego da Artilharia em Operações na Selva.  Anos mais tarde, o EME aprovou a criação da primeira OM de Artilharia na Selva: o 33º GAC Sl, que ao final de 2001 cederia seu lugar aqui em Roraima para o 10º GAC, por transferência de Fortaleza, sob comando do então TC Guilherme Theophilo, depois de ter sido comandado por três de seus irmãos mais velhos. (Hoje, o Gen Ex Theophilo é o Comandante Militar da Amazônia).
  • Nascia assim, em 2002, o 10º GAC Sl. Naquele ato, cumpria-se uma espécie de profecia, involuntariamente proferida nas palavras de despedida do GMTN em seu discurso de despedida quando deixou o  Comando do 10º GAC  em 1970, ainda em Fortaleza: “O espírito desta Unidade jamais desaparecerá. Mudarão seus artilheiros, mas o Grupo nunca mudará.”
  • Amanhã, na solenidade de recebimento da denominação histórica, falaremos mais amiúde sobre o General Manoel Theophilo Neto, militar extremamente vocacionado, firme em suas convicções e exemplo para todos os que tiveram a felicidade de conhecê-lo. Por hoje, quero apenas destacar alguns fatos de sua biografia.
  • O Gen Manoel Theophilo Neto obteve o direito de usar um cavanhaque, em virtude de antepassados que prestaram serviços à Nação desde o tempo do Império, quando os oficiais ainda podiam usar barba. Apenas isso já atesta o quão diferenciada é esta família no seio do Exército. Uma das várias amostras disso foi o fato de batizar a primeira filha com o nome de Bárbara, em homenagem à padroeira da Artilharia.
  • Era avesso ao luxo e aos avanços da tecnologia. Levava uma vida simples, quase espartana, que pode ser traduzida no nome que resolveu dar a seu sítio: “REDUTO CONTRA O PROGRESSO”. Era ali que o velho soldado buscava paz e sossego.
  • Paz e sossego que provavelmente ele não tinha quando os filhos eram pequenos, já que eram em número de oito. Qualquer um que tenha pelo menos um filho sabe o que isso deve significar.
  • Dos oito, seis – ou melhor, meia-dúzia – são homens, e todos seguiram o exemplo do pai. Todos artilheiros e de reconhecido valor profissional, tendo todos eles servido no 10º GAC. Destes, quatro comandaram o Grupo. Três atingiram o generalato. Um ocupa o posto máximo da carreira.
  • Todo esse sucesso, como já disse, não é obra do acaso. Essa força vem do velho Manoel Theophilo Neto.
  • E de onde vinha a força do velho Manoel Theophilo Neto? Nós, homens, sabemos. Vinha da esposa, com toda certeza.
  • Senhoras e senhores, é hora de homenagear aquela que, durante mais de 60 anos de convivência, ali estava o tempo todo, ao lado do grande homem, desde cadete até general. Estamos falando de Maria de Lourdes Cals Theophilo Gaspar de Oliveira. (FOTO)
  • O velho General Theophilo sempre chamou a esposa (Maria de Lourdes) carinhosamente de “MALUDE”. E, permita-me, Senhora Maria de Lourdes, referir-me à senhora, a partir deste momento, por esse apelido singelo e bastante poético, como forma de expressar nossa muito respeitosa admiração.
  • Essa história de amor, companheirismo - e, por que não dizer, devoção e luta - começou em 1944, quando o então Cadete Theophilo voltava da Academia para passar as férias de final de ano em Fortaleza. Dois anos depois, iniciaram um namoro que, como nas histórias românticas, se prolongou por toda a sua vida.
  • Tanto o é, que foi assim que a senhora descreveu a vida ao lado do velho soldado:  (abre aspas) “Quando ele me abraçava, eu sentia proteção, aconchego e uma certeza tão grande de que, em seus braços, nada de ruim poderia me acontecer.”
  • Com o casamento, em 1948, vieram os filhos e, com as transferências, teve início a vida peregrina de esposa de militar. De acordo com a Sra INÊS, a outra filha, ä cada transferência, tudo era difícil: deixar os amigos, escola nova, recomeçar do zero”.  Segundo o Gen Estevam Theophilo, foi a senhora quem arcou com o maior peso da educação dos filhos, que o velho General tratava com precedência hierárquica, conforme a idade. O mais velho era o mais antigo. Isso significava que o pequeno Estevam tinha sete irmãos que lhe davam ordens. Senhoras e senhores, pense num menino disciplinado!
  • Cruzando esse Brasil numa Kombi, em navios ou em aviões, a família foi forjando seu espírito e solidificando sua coesão. Segundo o Cel José Theophilo, o pai sempre viajava fardado e armado. Os pequenos aprendiam pelo exemplo, a enfrentar desafios e superar dificuldades. A inabalável fé cristã lhes dava força e serenidade para continuar em frente. Por trás de tudo, tinham sempre o colo amigo e carinhoso da mãe que tão bem os preparava para a vida.
  • Se essas coisas tivessem acontecido em períodos de absoluta normalidade, ainda assim não seria tarefa das mais fáceis. Mas como se não bastasse, a senhora ainda passaria por toda a instabilidade política que agitou o País naqueles tempos, especialmente na década de 1960. Relata o Gen Guilherme Theophilo que o velho Manoel Teophilo passou a tomar a iniciativa e discordar da situação vigente no país, em que políticos corruptos tentavam arrastar o Brasil em direção ao comunismo. Defensor da democracia e da legalidade, tomou posições firmes. Foi injusta e arbitrariamente punido por isso, chegando a ser preso e transferido sucessivamente para Manaus e para o Piauí. Quem seguraria as rédeas naqueles momentos terríveis e de extrema incerteza quanto ao futuro imediato, senão a incansável e onipresente Maria de Lourdes? Disso não resta a menor dúvida.
  • Mais tarde, com os filhos já crescidos, ocorreu nova mudança, dessa vez para assumir a aditância do Exército na Colômbia, e ali a zelosa e amorosa MALUDE, a par de ter que se adaptar a uma nova cultura e novo idioma, ainda teve que lidar com o segundo infarto que acometeria o velho coronel em Bogotá. Na volta apressada ao Brasil, ainda assistiu ao seu lado à cerimônia de formatura de um jovem aspirante em Resende, para em seguida partir para São Paulo onde ele seria submetido a uma delicada cirurgia de ponte safena. Relata o Gen Manoel Theophilo (ou “Manoelzinho, como a senhora o chama) que o pai sempre ensinou que eles eram capazes de vencer qualquer obstáculo. E não há dúvidas de que a senhora foi quem acabou demonstrando, na prática, a exata medida deste ensinamento, por toda uma vida.
  • Coroando uma vitoriosa e exemplar carreira militar, veio o justo reconhecimento da Força, na forma de uma mais que merecida promoção ao generalato. Nesse dia glorioso, quem conduziu a espada do velho General foi um de seus queridos filhos, o então Cadete Alexandre Theophilo, vestido em uniforme de gala, o peito cheio de orgulho. E a senhora lá, sempre com ele, na tristeza e, felizmente, nas inúmeras alegrias.
  • Muito ainda se poderia dizer sobre sua trajetória reluzente ao lado do General Manoel Theophilo Neto, hoje patrono de nosso GAC, o qual, por toda a vida, cultuou intransigentemente duas instituições: a Família e a Artilharia. “não necessariamente nessa ordem, como relata saudoso o seu primogênito, Cel Henrique Theophilo, meu eterno Comandante do Curso de Artilharia na AMAN, mas é hora de concluir.
  • É evidente que sua querida MALUDE esteve sempre presente na vida do General Manoel Theophilo Neto. Muitas e muitas vezes, onde ele não podia estar por conta dos afazeres profissionais, ali estava ela, mulher guerreira, cuidando dos oito filhos e de sua esmerada educação, em meio a transferências, atribulações e também nas horas festivas. MALUDE ali estava, tanto na luminosa promoção ao generalato, quanto na difícil transição para a reserva. E a seu lado permaneceu todos os dias, até o momento em que o Senhor dos Exércitos resolveu designar o impetuoso General Manoel Theophilo Neto para cumprir outras missões no campo celeste, levando-o dos braços de sua amada MALUDE para junto dos anjos que sempre o guiaram e iluminaram em vida.
  • Como a senhora mesma disse, ele viveu feliz  a seu lado e lhe deixou como herança essa linda família que a tem ajudado a superar a lacuna que ele deixou.
  • Dizia o bom General: “Eu jamais poderia ser outra coisa senão um soldado”. E a senhora, dona Maria de Lourdes, poderia ter sido muitas outras coisas, mas nada – NADA! - tão bonito e apaixonante como ser mulher daquele soldado ímpar, que deixou saudade no coração de um Exército inteiro e que a partir de hoje, para toda a eternidade, empresta seu nome iluminado para a Unidade que tanto amou.
  • No momento em que convido o Cadete Theophilo, seu neto, para lhe entregar uma singela homenagem, porque simples são as coisas de soldado, convido todos os presentes a reverenciar essa brilhante mulher, esposa e mãe de soldados, com uma calorosa SALVA DE PALMAS.


Ten Cel ÍSOLA

Comandante do 10º GAC SL{jcomments on}