SIR FRAZONE

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   Recebo notícias esparsas do Frazão, na presidência do Círculo Militar da Vila Militar. A mais recente estampa imagem sobre a realização de torneio de sinuca, levando-me a vincular a missão do querido confrade à autêntica sinuca de bico, que somente alguém como ele poderá desfazer. Falo de camarote, pois ocupei o mesmo cargo cumulativamente ao exercício de atribuições funcionais no Comando da 1ª DE, onde servi de 1996 a 1998.

    Os clubes sócio-esportivo-recreativos, pelo menos nos grandes centros, sofreram drástica redução de associados e atividades que os faziam importantes polos de convergência social. Quantas lembranças emotivas certamente acorrem aos que aprenderam a nadar e praticar esportes em geral, dançar e namorar em antigos clubes da juventude distante? Os condomínios residenciais, mudanças de comportamento, mobilidade urbana e fatores variados de novas realidades somados lhes esvaziaram a frequência, igualmente afetando agremiações militares congêneres. E aí se encerra o xis do problema de suas dificuldades atuais, não raro deixando-os sem recursos para a satisfação mínima de encargos vitais, como o pagamento rotineiro de funcionários e a manutenção de equipamentos e instalações.

     Notadamente nos anos 1950 e 1960, o CMVM atraía a oficialidade da Vila Militar, seus familiares e civis eminentes da vizinhança. Viviam-se os anos dourados da cuba-libre e do mobiliário pé-de-palito, alegres tardes e chá dançantes ali acrescidos de escassos automóveis particulares, televisão incipiente e difícil acesso às principais áreas da cidade.  A zona sul parecia recanto imaginário, em particular Copacabana, tantos eram os percalços para alcançá-la; a Barra ainda um vasto areal, quase inacessível; mesmo a Tijuca e o Centro tinham acesso complicado. Neste cenário, o Círculo da Estrada São Pedro de Alcântara representava o point natural daquela região, aproximando jovens personalidades como Nestor Cabeça, Marcos Jacaré, Ivo Damerran Salvanyus, Professor Auzemyr e outras que lá se esbaldavam em arroubos iniciatórios de futuras trajetórias estelares.

    Há muito o CMVM enfrenta desafios de concorrência intensa e desleal: shopping-centers, inclusive dentro da Vila Militar; facilidade e rapidez de transportes; multiplicação de piscinas, campos e quadras esportivas; profusão de ambientes recreativos; internet, equipamentos virtuais e incontáveis variáveis detonadoras do seu poder afiliativo. Paradoxal que o seja, o progresso jogou contra. Eis a questão, sem dúvida iluminando o Cmt 1ª DE, em sábia decisão, a colocar o ilustre filho de Tremembé à frente do CMVM. Malgrado mero palpiteiro, ouso expor interpretação pessoal para a mencionada escolha, ancorado na duradoura amizade com o dileto presidente.  

    A persona do Frazão, desde cedo e assim consagrou-se, transparece enganosa religiosidade reducionista, devotada integralmente à clausura e à busca da salvação terrena, o que contribuiu para ocultar facetas relevantes da sua maneira de ser. Sem desmerecer-lhe a vocação metafísica, respeitável e admirável, o verdadeiro Frafri incorpora manifestações personalógicas diferentes daquela à qual habitualmente o associamos, arriscaria dizer antagônicas. Quem dele desconhece o acendrado conhecimento de emprego da Arma Ligeira, a habilidade equestre, a aptidão para o tiro, o lauréu exclusivo de combatente aeroterrestre do Esquadrão/72? Ou as aguerridas reações instintivas de sobrevivência perante comensais selvagens do dito Esquadrão, nas refeições acadêmicas? Existem inumeráveis Frazões e me ocorreu apreciar um desses lados ignorados seus, o de musicista exímio nas cordas do violão que dedilha com precisão. Aliás, violeiro e cantador na melhor tradição dos trovadores medievais, ancestrais remotos do cortejar romântico à figura feminina, ao amor cortês e à valorização da mulher. Comecei a sacar porque o nobre cavalariano-pqdt é o homem certo no lugar certo do Círculo da Vila.  

     Trovadores e cavaleiros representam faces de uma mesma moeda. Enquanto aqueles resgataram o lirismo amoroso, contrariando a mentalidade hegemônica católica da Idade Média, entre os séculos XI e XIII, a ética da cavalaria reprocessou modos e costumes trovadorescos sob uma roupagem palatável aos cânones eclesiásticos, por definição opostos à glorificação ocasional do amor adúltero pelos trovadores. Originaram-se daí os cavalheiros, seres gentis dos quais até o surgimento das feministas radicais copiavam-se os gestos de abrir as portas dos automóveis para as damas, pagar-lhes as contas nos restaurantes ou beijar-lhes as mãos em ato de sublime contrição. Aos cavaleiros mais refinados concedia-se o título nobiliárquico de Sir. Eureca! O Frazão preenche a totalidade dos requisitos de legítimo Sir medieval, agitaram-se meus combalidos botões: é cavaleiro, é gentil, é valente, domina o violão como a rabeca dos trovadores, entoa canções ingênuas e não canta a mulher alheia. Portanto, last but not least, o consagro Sir Frazone.  

     Na verdade, a imponência do salão de festas do CMVM reverencia idos faustosos, nas nuances arquitetônicas arquetípicas de estranha procedência. Teriam acampados cavaleiros pré-templários no terreno do Círculo? Lanço a indagação ao califa Damerran, expert insuperável em assuntos de natureza cósmica.   

     Mas remeto o desafio final ao Pimpim e demais frequentadores habituais da Praia Vermelha: seja a próxima reunião da Turma, a de novembro, excepcionalmente realizada no CMVN, sob as árvores frondosas de suas dependências ou à beira da piscina, acalentada pela mística da Vila Militar, nosso abrigo em alguma fase da carreira.   

   Antecipando possíveis críticos, meus pela sugestão inédita, do Frazão pelo seu absenteísmo histórico às assembleias das sextas-feiras iniciais do mês, nas CNTP, eu lhes replico humildemente: escancarem os corações, coluna motorizada em ordem de marcha à retaguarda do Prez Pimpim, em sete de novembro vindouro, rumo Sapopemba entoando a canção For He`s a Jolly Good Fellow, sem adaptações maliciosas.

    Ao estimado Sir Frazone, votos entusiásticos de sucesso na missão, que os seus elogiáveis predicados já devem estar reduzindo à mais banal das tacadas na caçapa.   

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Rio de Janeiro, 12 de outubro de 2014

Dom Obá III, sinuqueiro sem eira nem beira.{jcomments on}