SERÁ O BAR MITZVÁ ?

Comente este artigo!

Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn

alt

     Nada mais se comenta nas redes sociais do que a suposta conversão do emérito pensador Ivo D. Smith à confraria dos pés de poeira. Alguns comentários irônicos iniciais de confrades descrentes desencadearam torrente de manifestações apoiando o guru das praias cearenses, numa quase unanimidade opinativa que me incomoda e inspira a refutar certos equívocos cometidos, inclusive por mim.

    Tive a primazia de defender a liberdade de expressão do dileto Damerran, associando-me às justíssimas celebrações do seu aniversário, neste ano mais especiais por ter participado das efemérides do Dia da Infantaria em Fortaleza. Sim, o lendário Comandante Aço do Real Engenho não deixou por menos: no Ceará emblemático dos infantes patrícios recepcionado com pompa e circunstância, retribuiu gentilezas, mandou ver no gatilho, saboreou petiscos,  curtiu beberagens e despediu-se arrasando a distinta plateia sob o toque de sedução do autêntico Cavalariano que é. Começam aqui as distorções perceptivas. Na verdade, Ivo Smith não aderiu às legiões, elas é que se deixaram enredar nos encantos de um legítimo representante da Arma Ligeira.

     Quando Renatinho-JF e o personagem virtual Bac do Flu assestaram ironias iconoclastas contra o meu irmão cósmico, recorri  a circunstâncias de passado longínquo para refutá-los. Admito a injustiça de insinuações que externei contra aqueles queridos confrades do perene Esquadrão de nossas vidas. Dom R. Araújo, ídolo antigo, detentor do segredo da eterna juventude, colunável na Manchester brasileira, elegante easy rider da BR-3, craque nas pistas de atletismo e no IME aparenta surpresa perante as reações pró Damerran. Bac do Flu, o inesquecível Capitão Garance do RAN, mantém silêncio obsequioso.      

   Quero penitenciar-me, pois Dom Renato e Dom Bac dissecadas suas vivências pregressas jamais poderiam ser rotulados bad boys acadêmicos. Bad boy exemplar era Dom Paca Domingues, enroscado no folclórico mau humor matinal; Dom Rabuka, solitário varando madrugadas gélidas, dedilhando o violão ou imaginando terríveis xeques-mates no TO enxadrístico; Dom Meluvaz, organizando o famoso resuminho enciclopédico; Dom Frazone, exorcizando almas penadas insistentes em invadir a geladeira da Ala a consumir refrigerantes no seu santo nome; Dom Zico Marques, gaudério de Bagé, e tantos outros. Sorry, Renatinho, o elegi para sempre meu good boy de estimação, ícone da alegria e do bem viver. Velho Bac, antecipei o Juízo Final zerando suas dívidas comigo, até mesmo medonhas bizarrices esaônicas, tipo cadeado besuntado de graxa preta, armário revirado, roupas e sapatos pendurados nos ventiladores do vestiário. Águas passadas não movem moinhos. Acredito.

    Dom L.Moneró e Dom A. Arataquinha, renomados integrantes das hostes hoplitas, por sua vez engrossaram coro elogioso ao mestre Albany, heterônimo há pouco revelado por Dom Coco graças a recordações do nebuloso episódio de peruação de Arma pelo então jovem cadete, futuro Cmt Aço, circa 1970/71.  Palavras justas, parcialmente questionáveis.    

    Saiba insigne Barão de Vargem Grande, o bom trato do vernáculo não constitui estranheza ao perfil histórico dos Cavalarianos, haja vista serem habitualmente dotados de habilidades surpreendentes. Conciso, citarei apenas quatro luminares das letras oriundos da Arma de Osório: Valentim Benício da Silva e Umberto Peregrino, oficiais-generais, o primeiro reorganizador da BibliEx; o segundo também seu ex-Diretor, aclamado poeta, escritor, folclorista e  historiador; Ivan Cavalcanti Proença, filólogo, e Heitor Aquino Ferreira, prestigiado tradutor de obras célebres. O Coquinho? Se o incluísse seria covardia.

    Bem reconhece VSª, Dr Lobo Moneró, serem os Cavalarianos generosos de coração.  Cunharam a expressão – “Cavalaria, mais que uma Arma, um estado d’alma” – na qual abrem as eclusas dos sentimentos próprios àqueles identificados com os valores essenciais do seu espírito corporativo. No entanto, para ostentar o sagrado símbolo das lanças cruzadas na lapela muito mais se exige. Requerem-se infindáveis jornadas montado no dorso de baguais, a instruir jovens iniciantes nos misteres instrumentais de uma arte milenar; cuidar e fiscalizar o bem-estar dos animais e a limpeza das baias; dominar os princípios e técnicas de emprego de blindados em suas diferentes acepções; aprender a operar exuberantes máquinas de guerra; descortinar detalhes num relance, emitindo respostas oportunas e precisas. Gostar de cavalos, ou dedicar-se à equitação, concorre para conformar o espírito cavalariano, mas a ninguém confere a diplomação guerreiro “DE Cavalaria.”     

   Enquanto somos todos infantes de berço, somente aos eleitos se permite a consagração de Cavalarianos na plenitude do ser. Aos desavisados de plantão sugere-se que Ivo Damerran, em de 24 de maio passado, participou de um verdadeiro Bar Mitzvá militar logo após completar 65 anos de profícua existência. Menos, ilustres confrades pressurosos em saudar a suposta conversão do Xamã de Iracema à mochila, ao coturno e ao fuzil automático. Assim como num louco delírio socializante, o poeta sonhou algum dia igualar o mundo a Ipanema, talvez nesse longínquo porvir todos os combatentes possam ser Cavalarianos de verdade.   

   Caríssimos Bac e Renato, favor substituir os verbos trair por seduzir. O grande Damerran nunca traiu, e jamais trairá a irmandade das lanças cruzadas. Ele apenas esparge sobre parcelas extasiadas da simpática Arma Básica o peculiar encanto, o indizível carisma e o irresistível charme da inigualável Cavalaria.  Trata-se de um apóstolo da elegância de viver que prescinde de iniciações ritualísticas, pois ele simplesmente conduz ao invés de ser conduzido. Bar Mitzvá para Dom Ivo D. Smith? Fala sério...


Rio, 30 de maio de 2014.

Dom NP Obá. Cabo das baias, forragem sem alteração{jcomments on}.