A MORTE

Comente este artigo!

Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn

       alt

        Assisti a algumas imagens do velório de um companheiro de turma e de sacanagem, quando alguns colegas deram seus depoimentos.    

        Parecia que a qualquer momento iria estourar alguma piada. Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena.

        Mas nada acontecia ali de risível. Era só dor e perplexidade, que é mesmo o que ela causa em todos os que ficam.

        A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si sói, é uma piada pronta, morrer é ridículo.

        Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre.

       Como assim!!!!?????? PORRA!

        E os Emails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?

        Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco? Você passou mais de dez anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas na Prep, ou no CM, que não serviriam para nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente.

       Praticou muita educação física, equitação. Quase perdeu o fôlego, mas não desistiu.

        Passou madrugadas estudando na sala de Biologia sem dormir, para ir para a Academia, mesmo sem ter a certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então foi mais uma vez em frente...

       Após mais de trinta anos de caserna, de uma hora para outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu carro.

        Qual é? Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez a sua música preferida.

       Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.

       Logo você que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra. Você sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue à próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer.

        Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã.

      Faz-se check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério?

      Tendo mais de cem anos, como diz o Arataquinha, vai lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas, ok hora de descansar em paz.

      Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa, não se faz, morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas, morrer é um exagero. E, como sabe, o exagero é a matéria prima das piadas, só que esta não tem graça.

      Por isso viva tudo que há para viver, não se apegue às coisas pequenas e inúteis da vida...

Perdoe sempre. Curta enquanto pode, pois a vida é bela e deve ser vivida do seu jeito!!!!!!!!!!!!!!!!

       Aos companheiros que se foram  e aos que irão antes dos cem, nos aguardem.!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

       cOBRA - Turma MMM 72{jcomments on}