XÔ, FACEBOOK!

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   As benesses e mazelas do cyberespaço assolam a vida planetária, irreversíveis, transformando hábitos sociais. Comportamentos e atitudes antes considerados desaconselháveis aos mortais sensatos são agora adotados em larga escala, subvertendo valores, deixando atônitos seres decrépitos como este ancião rabugento. Hoje, a privacidade, discrição e recato pessoais representam vítimas preferenciais do exibicionismo patológico,  sobretudo exacerbado nas ditas redes sociais.

   Transbordam exemplos, e contradições. Há dias vi publicada imagem de noiva na igreja, durante celebração de casório, mais preocupada no manuseio de uma dessas geringonças eletrônicas do que em ouvir o padre ou enlaçar o noivo, prenunciando a natureza de uma noite de núpcias virtualmente desenxabida. Também soube grassar, nos Estados Unidos, avalanche vingativa de ex-maridos, namorados e amantes abandonados contra antigas parceiras, pela exposição de fotografias delas na Internet, peladas ou em poses comprometedoras. Ronaldinho, o Fenômeno midiático, reclama de ofensas de internautas, “mal-educados” segundo suas palavras, diante de foto dos filhos que o próprio expôs no Twitter. Quem mandou divulgar?     

   Aliás, no quesito contradições certas “unanimidades” artísticas tupininquins são imbatíveis. Escancaram as vidas ao grande público buscando os holofotes da fama, dão pitaco em qualquer assunto, soberbos, incentivados pela mídia amestrada, acreditando-se sapiências irrefutáveis. No entanto, para citar apenas a polêmica atual das biografias não-autorizadas, quando fustigadas reagem alardeando valores que ajudaram a ser subestimados por legiões de admiradores e fãs. Seria risível, se não fosse lamentável, observar o “libertário petista” Chico Buarque, o “ministro zen-budista” Gil, o verborrágico “black bloc oportunista” Caetano, ou o “atarantado porta-voz” Djavan, irromperem de suas tumbas douradas defendendo censura que eles tanto bradaram repudiar. Liberdade de expressão de mão única? Quem te viu quem te vê... É Proibido Proibir?   

   Findas as generalizações, personalizemos a bronca. Há tempos venho recebendo número crescente de solicitações na web, mesmo de desconhecidos, para adicionar-me a redes sociais, notadamente o Facebook. Geralmente as desconsidero na suposição de que cessarão, ainda sem obter sucesso. A cada abertura eventual de e-mail acesso as indefectíveis mensagens – Fulaninho aguarda resposta ao seu convite, etc e tal – agravando minha rejeição a determinados aspectos do mundo contemporâneo. Já não bastam os impressos entupindo a caixa de correios, torturantes telefonemas de telemarketing, bancos insistindo em empurrar empréstimos ou cartões de crédito, SAC exasperantes e ineficazes, tudo isso sem esquecer as hordas de marginais à espreita, oferecendo resgates de pecúlios fajutos ou supostamente ameaçando a integridade física de familiares? Onde reencontrar o sacrossanto repouso do lar?     

   Tentar cooptar-me a ingressar nas tais redes revela ignorância total sobre este exilado selenita, desplugado de preferências massivas corriqueiras. Na área televisiva, não assisto novela, Faustão, programas sanguinolentos, minisséries, reality shows, e até a agenda esportiva anda prejudicada com o célere retorno do Gigante da Colina à Segundona. Nem os noticiários têm merecido atenção integral. Detesto pagode, música sertaneja, rock de todas as extrações e a assustadora indigência do bate-estaca eletrônico. Da selvageria homicida MMA, passo longe. Sexy Hot? Tenho mais a fazer.    

   Perdôo os amigos diletos que imaginaram algum dia comigo compartilhar vivências, imagens e notícias através da modernidade cibernética. Depois deste curto desabafo decerto melhor me compreenderão, evitando o silêncio constrangedor aos convites formulados. Sou um barroco fora de época, nostálgico de eras passadas, missionário de condutas, gostos e crenças em desuso que, todavia, alimentam-me o espírito perante a tresloucada corrida modernosa para o abismo da mediocridade humana. Facebook, Twitter, Instagram e afins? TÔ FORA!!!  


Rio, 19 de outubro de 2013

Dom Obá III, Alto Babilônia, pós-sarau  bossanovista  pró-memória do Poetinha.


PS 1- Estimado Cmt pontoneiro Cordeirinho: causou-me subida e honrosa alegria a sua pronta remessa de Ayrtinho 65 ao nobre Barão de Vargem Grande, quando este externou o não-recebimento do mencionado texto. Muito além da generosa iniciativa, você extrapolou ao declarar manter arquivadas todas as manifestações escritas deste humílimo condottiere da verdade. Surpreso e comovido, agradeço a insuperável deferência pessoal, valorizada ao extremo advinda de sua parte, iluminado da Nação/72. Valeu... A Engenharia!!!             


PS 2 – Caro Barão: você, Ícaro lírico e audaz, representa o nosso modelo acabado na busca do centenário feliz. Prossiga na missão. Ayrtinho 100!!!{jcomments on}