REUNIÃO NA AMAN
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- Criado: Segunda, 08 Outubro 2012 06:21
- Última Atualização: Quinta, 21 Abril 2016 14:09
- 08 Out
- Escrito por USUáRIO TESTE DE SISTEMA 1
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Estou convicto de que um dos melhores momentos de grande felicidade, emoção e fruição existencial nesta minha efêmera vida foi no inesquecível reencontro com velhos camaradas e amigos de minha querida turma MMM em Fortaleza, queridas, valorosas e saudosas pessoas que nunca hei de olvidar em meus pensamentos e preces.
Hoje, inspirado pela atual torrente de profundos, poéticos e filosóficos textos de meu irmão cósmico e de arma, Nilo, em particular pelo recente “Uma razão de viver”, quando lamenta e justifica brilhantemente seu atraso à última reunião no CMPV, resolvi expor também meus irredutíveis motivos de nunca ter comparecido às reuniões de nossa turma na AMAN, nem na EsPCEx.
Quando nossa coesa turma se reuniu na AMAN pela primeira vez em 1982, pelos 10 anos, não fui. Eu servia bem pertinho, no Rio de Janeiro, no glorioso Regimento Andrade Neves, no posto de Capitão, logo após cursar a EsAO. Naquela época, já havia ido à AMAN por várias vezes, a serviço ou por competições, desde o tempo que servira por 3 anos como Aspira/Tenente no valoroso 3ºRCC ( Ferro & Aço! Fogo & Balaço!), lá no velho Realengo.
Isto porque, infalivelmente, todas às vezes que cruzei o portão monumental da AMAN senti-me desconfortável, ansioso, inquieto, perturbado e louco para sair dos limites acadêmicos. Com certeza, pela teoria freudiana, explica-se estes óbvios sintomas neurastênicos, normalmente frutos de manifesto trauma psíquico, tipo neurose de guerra.
Assim, no passar dos anos, auxiliado por Freud, firmei convicção de que muitos jovens, como eu, que passaram por severos internatos tipo ExPCEx e AMAN carregam para sempre traumas psíquicos resistentes e dolorosos, advindos do permanente tratamento frio, distante, ríspido e impessoal de seus instrutores e comandantes, num momento difícil de rompimento do cordão umbilical amoroso desses jovens com seus pais e familiares. Muitos, não suportando o terrível afastamento familiar, pedem para sair. Outros, por não aguentarem o cruciante e sagrado ritual de passagem do estado mental civil para o militar. Se não me engano, dos 170 que entraram na EsPCEx em 1966, apenas 60 superaram as agruras, asperezas, a carência afetiva e ousaram prosseguir na desafiadora formação castrense na AMAN. Sem dúvidas, no instante que todos aqueles tenazes 60 preposos cruzaram o portão monumental da AMAN, em 1969, já haviam se convertido em autênticos militares de têmpera de aço, soldados na plenitude e guerreiros ad aeternun.
Na AMAN, novo choque existencial, novo trauma libidinal familiar, novo ritual de passagem radical, onde diferentes jovens de diversas origens, maturidade e formação são indistintamente jogados na vala comum de abjetos “ bichos”. Foi um cruel tratamento igual para os claramente desiguais, que chocou profundamente aos veteranos guerreiros preposos , bem como aos já formados militares oficiais e graduados temporários, todos rebaixados a desprezível posição de “bichos Cadetes”, os maltratados párias da AMAN. Então, naquele momento impactante, muitos pediram para sair.
O trauma psíquico prossegue e avulta, somatizando-se para sempre nos corpos e mentes dos jovens Cadetes, inconscientemente, enquanto são formatados duramente durante os quatro anos acadêmicos sob constante pressão disciplinar; tratamento áspero; patrulhamento comportamental; punições em profusão; mijadas a todo instante; ameaças de reprovação; frieza e excessivo rigor dos instrutores; confinamento massacrante; dor da saudade; vazio existencial; o silêncio das alamedas, e a frieza dos mármores como companhia nos fins de semana dos laranjeiras. Havia, perceptivelmente, sempre no ar uma temível espada afiada de Dâmocles sobre jovens cabeças conflitadas.
Por estas e outras impagáveis más lembranças, prezados amigos e camaradas, agora cônscios de minha assumida, insana e maldita neurose acadêmica, peço-lhes vênia e compaixão por me abster de pisar novamente naquele tenebroso sítio. Para mim, absolutamente mal são, um ambiente pesado, permeado de fluídos negativos, espaço de tristes lembranças, pleno de desamor, perdas, mortes precoces, dores infindas, suor e lágrimas de sangue, mágoas, frustrações e ressentimentos. Definitivamente, AMAN é o poço de meus ais, dos meus piores tormentos existenciais, insuportável castelo dos meus horrores e cruel bastilha de meu corpo, alma e espírito. Afirmo que nem pela catarse, já tentada, consegui me curar dessa maldita neurose.
Definitivamente, para mim, a AMAN não é um portal sagrado como a Praia Vermelha, Praia dos Anjos, Jericoacoara, Futuro ou de Iracema, sítios onde pude e ainda posso me encontrar com meu Deus interior e a paz espiritual, e comungar da raríssima amizade incondicional com meus eternos e verdadeiros amigos, e sinceros camaradas irmãos d’armas.
Salvany - Cav/72{jcomments on}