Coronel de Cavalaria JOSÉ ALBANO LEAL - eterno Comandante do Corpo de Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras

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      Crônica de autoria do Cel Cav Frazão: JIBOIÃO      
      Jiboião era um superlativo calçando botas, um fragmento obrigatório na memória dos que foram seus cadetes na Academia Militar das Agulhas Negras, muitos dos quais nem se lembravam de pronto que Jiboião era também o coronel Albano.  

      Semanalmente, Agulhas Negras se punha em forma no Pátio P3M. A formatura era presidida por ele, Jiboião, então Comandante do Corpo de Cadetes. Jiboião aguardava no extremo norte do Pátio, entre os pórticos, o toque de sentido dado para a tropa, e então rompia marcha e vinha em passo ordinário até uma posição central no dispositivo. Ele tornou memorável esse pequeno cerimonial.


      Adentrava o P3M cobrindo o percurso em passos largos, fincando os calcanhares das botas na exata interseção das lajotas, como faziam os jovens cadetes. Pisava o solo sagrado do Pátio com energia exagerada, mas com respeito aos muitos gigantes que caminharam sobre aquelas lajes.  

      Vestido em botas reluzentes e culote de oficial de cavalaria, carregando duas esporas prateadas agarradas ao calcanhar das botas, pingalim na mão, talvez para a ocorrência improvável de poder montar algum cavalo encilhado que lhe cortasse o caminho em galope aberto, nas lajotas áridas daquele pátio, Jiboião era espetacular.  

      A certo ponto da marcha, volvia subitamente à esquerda, seguia por mais alguns metros e parava, como se fosse ficar ali, o silêncio pesado e incômodo, substituindo o barulho das botas.  

      Então, repentinamente, fazia uma meia volta perfeita e unia os calcanhares, na posição de sentido, com tal ímpeto que o retinir metálico e seco do choque das esporas feria os ouvidos dos cadetes. Era como o choque de dois diapasões de afinar piano. Dão conta, os exagerados, que a frequência era ouvida nas últimas ruas do bairro militar de Monte Castelo, a mais de um quilômetro de distância, e que já quebrara mais de uma dúzia de taças de cristal no refeitório acadêmico.

      E depois viriam as longas preleções de Jiboião.  As palavras saiam cronometradas e milimetradas da sua boca, alinhadas e cobertas, em passo ordinário, ao ritmo do repicar áspero de um tarol virtual que Jiboião guardava na cabeça. Aquilo não era um discurso, mas um desfile militar de substantivos, verbos e adjetivos.  

      Um dia Jiboião guardou para sempre as suas esporas. Mas dizem que uma pessoa só morre completamente quando não existir mais ninguém que se lembre dela.