A TÁVOLA, OS RAPAZES JF E O CONDE VO-ADOR

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  Juiz de Fora, cidade progressista e ordeira, preserva o encanto peculiar de antigas povoações mineiras. Modernidade e certa atmosfera de tranquilidade colonial nela se harmonizam.  Na década de 1960, então aluno da EPCAr, em Barbacena, de relance eu admirava a efervescência urbana aliada a bucolismo campestre da ex-Manchester das Alterosas, que revendo no burburinho da Rua Halfeld e arredores percebi inalterada no charme discreto, embora esvanecido o recato original. Neste mês, reconheci alguns de seus personagens atuais.

    Na luminosa tarde da assembleia de novembro, da praça emoldurada pela estátua de Chopin se pressentiam instantes memoráveis no portal mágico do CMPV. E assim seria, como se o genial polonês orquestrasse elegia inaudível a celebrar velhas amizades. Mais se aproximava o mezanino externo superior do Círculo, mais se robusteciam as expectativas, afinal confirmadas nos vislumbres iniciais da távola que acomodava os cavaleiros da Irmandade72.  

     A távola 3M adota o sacramento igualitário dos comensais consagrado pelo Rei Arthur, malgrado as mesas retangulares do Círculo litorâneo carioca.  Vastos eram os participantes, por coincidência assemelhados em número aos cavaleiros da lendária corte medieval – da Rainha: Ayrtinho, Ângelo, Jaílson, Lobo, Ismael e Volotão; do Esquadrão: Castro, Ivan, Renato, Domingues, Bernardes e este cerra-fila; da Poderosa: Bonato, Pimpim e Mota; da azul-turquesa: Frisch; da folha de acanto: Alcântara e Paulinho; do MatBel: Capellano; agregados:  Rodrigues Machado, de 73, e Marcelo, ex-aluno do CMRJ.   

    Desconfio de colaboração imaterial do próprio Merlin ao alto astral valorizado por presenças bissextas - Castro, Alcântara e o arauto Ivain C, altos dignitários na Casa da República, à qual retornaram para finalizar o expediente; o onipresente Bonato - noite em Brasília, manhã seguinte na Barra, tarde no CMPV; o secretário de Cultura pernambucano Jaílson Bedor Jardim, sempre elegante; Bac, beirando o FCVN; Herr Wollotein, barba hirsuta; Ailton Soriano F, globetrotter tranquilo. Mas trio inesperado incendiaria as carrapetas festeiras.

     De Juiz de Fora, a jato na BR-3, três rapazes inspirados aportaram no CMPV quase revirando a távola para enlouquecer a corte do Rei Arthur Pimpim, excitados talvez por consumo exagerado de pão de queijo, tutu, couve e torresmo regados a irresistível caninha mineira alambicada. Ainda mais abrilhantaram reunião concorrida, onde além de confrades pouco assíduos destacava-se apreciável efetivo do Esquadrão, como jamais ocorrera.  Fato é que propiciaram contentamento forjado em reencontros pontuados por causos impagáveis.               

     De personalidades distintas, a trinca JF operou em bloco para destruir ocasionais focos de seriedade, executando esquema de manobra cuidadosamente engendrado. De início contratou motorista para transportá-la no trajeto JF-Rio-JF, o que diante das leis secas vigentes configura gesto de prudência exemplar.  Todavia estacionado o automóvel na Praia Vermelha, rumou célere ao CMPV esquecendo o condutor perto de renomado pé-sujo, o que à galera eufórica suscitava indagações recorrentes: estaria o contratado sóbrio suficiente para a volta com os contratantes? Superaria eventual exame de bafômetro? Permaneceria junto ao carro estacionado? A rapaziada da Zona da Mata provocava indigestão de surpresa e bom-humor desde a imprevista chegada triunfal.

    Capellano, o fio de terra dono do automóvel, mantinha aparente autocontrole malgrado preocupação explícita com a higienização dos bancos estofados no retorno à base, impelindo-o a tentar controlar, sem sucesso, o volume etílico consumido pelos companheiros de estrada.

    Dom P Domingues desmoralizava a carranca lendária. Sem atinar se graças à mineirice adotiva, ao sítio mágico do Círculo, ou à ingestão liquórica, via-o gargalhar a torto e a direito, confundindo o sectarismo de subjetividades arraigadas. Em determinado momento, atônito, Dom Bac sabiamente opinou que nem nos quatro anos acadêmicos ele sorrira tanto e com tanta intensidade. Dificílimo compreender a natureza humana.    

      O Paca encantava, o Renatinho aloucava. Tal Garrincha redivivo na MMM, o representante mais charmoso do Esquadrão dava dribles homéricos nos possíveis marcadores.  Trajando controversa camiseta verde-limão, segundo afirmava comprada em Londres, conforme unanimidade popular adquirida na liquidação72 da Casa Varejão, em Resende, o inenarrável Cad Cav 1200 só não fez chover. Quem viu, viu, quem não viu, imagine...    

    Assim como aterrissaram na Urca, os rapazes JF decolaram de surpresa, pelas dezessete, reincorporados ao jeito mineiro de ser. Liderados pelo brother Renato deixaram saudade, esperança de aparições mais frequentes, impressão de viajarem na cauda de cometa e a certeza de Juiz de Fora ter perdido a sisudez do recato quando nela recepcionou-os residentes.

     Prosseguiria a assembleia até as dezenove, extasiados os recalcitrantes ante o sábio Conde Ayrtinho. Esclareça-se que o aristocrático ícone aeroterrestre assumiu de vez aparência fidalga, com barba e bigode de fazer inveja às dinastias de Aviz e de Bragança somadas. Aliás, sem prejuízo de outras titulações nobiliárquicas merecidas, acordou-se agraciá-lo Conde Verde-Oliva – Conde VO – em homenagem às suas admiráveis evoluções aéreas no EB. Sofrendo mágoa longeva perante o vexame esportivo do 7x1 prussiano, tomo a liberdade de suplantá-lo em nobreza ao afamado Barão Vermelho da 1ª GM, nomeando-o afetuosamente Conde VO-ador.  

     Recluso, ao refletir sobre eventuais percalços da maturidade, concluí – não sem antes atirar pela janela do cafofo caixas de ansiolíticos, vasodilatadores, antidiabéticos e demais venenos medicamentosos guardados debaixo da cama - ser incomparável terapia para os males existenciais o comparecimento ao CMPV, na satisfação indescritível dos reencontros mensais de amizades sem igual.     

   Saudações efusivas aos Cavaleiros da Távola 3M, habituais e bissextos, ao Rei Arthur Pimpim, aos rapazes JF, ao Conde VO-ador do Recreio Ayrtinho e à gloriosa TuMMM.


Rio, 15 de novembro de 2014

Dom Obá III, cabeça fresca para sempre graças à MMM.

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PS: quem terá dirigido a carreta do Capellano, de volta a Juiz de Fora?{jcomments on}